Puro egoísmo. Pode ser. Como mãe de dois filhos não posso deixar de aconchegá-los com o olhar e pensar o quão afortunados são por viverem num país sem conflitos.

Os números falam por si. Estima-se que desde 2000 mais de dez mil crianças palestinianas tenham sido detidas pelo exército israelita. A cada 12 horas, uma criança é interrogada ou presa. Os factos, apresentados num relatório de 2013 da UNICEF, são um verdadeiro murro no estômago. Como pode existir tanta crueldade? Como pode o ser humano acometer-se de tanto ódio?



Não, nunca existirão palavras para descrever a realidade que Farah Nabulsi retrata na sua mais recente curta-metragem “Today they took my son”. A realizadora, filha de pais palestinianos, que foram morar para o Reino Unido, em 1970, dá a conhecer a desumanidade, a crueldade e o degradante mundo em que algumas crianças vivem. Como mãe não consigo conter as lágrimas ao pensar como tudo isto é indizivelmente  desumano. Não existe explicação para o que apenas poderá ser explicado pela infinita desumanidade do mundo em que vivemos.

São necessários muitos “murros no estômago” para sairmos da nossa zona de conforto, avivando-nos a memória com a feridade que ainda existe. Por mais distante que possa estar da nossa realidade, não há quem veja esta curta-metragem e não fique paralisado com o estado de barbárie e crueldade destes tempos hediondos. É a realidade ficcionada, mas dói. Dói muito. "Cruel, desumano e degradante tratamento e punição de crianças palestinianas por parte do sistema de detenção do exército israelita, parece estar difundido e institucionalizado", refere o mesmo relatório da UNICEF.

Segundo Farah Nabulsi, as crianças são detidas entre a meia-noite e as cinco da manhã. Soldados armados tapam-lhes os olhos, atam-lhes as mãos. Os meninos são vítimas de vários abusos físicos e psicológicos durante a detenção e o interrogatório. Arrancados das suas casas e famílias, são-lhes negados bens tão básicos como comida e água. Meninos como os nossos, como os nossos filhos, inocentes, mas sem espaço para poderem ser apenas crianças. Tão pouco, mas tanto!

Esta curta-metragem integra o projeto Oceans of Injustice, que procura mostrar a luta palestiniana pela "liberdade, justiça e equidade".

Se não for bastante ler estas palavras ou ver as imagens, então sigam a sugestão de Farah Nabulsi: "Imaginem que isto acontecia com uma criança que amam!" 

Murro no estômago

by on dezembro 17, 2017
Puro egoísmo. Pode ser. Como mãe de dois filhos não posso deixar de aconchegá-los com o olhar e pensar o quão afortunados são por viverem...
Não é fácil escrever sobre sentimentos. Mais difícil ainda é escrever sobre um sentimento que é uma mistura de tantos outros. “Saudade” é a palavra que define este misto de emoções, que tão bem caracterizam a alma portuguesa. Falar de saudade é evocar a época da expansão marítima, para definir a solidão que os lusitanos sentiam longe da pátria.


O significado da palavra poderá estar relacionado com uma certa melancolia, sentida devido à ausência ou desaparecimento, especialmente de pessoas, mas também de coisas, estados, ações ou até mesmo emoções. Todavia, saudade é algo bem mais abrangente, com sinónimos demasiado complexos. À pergunta “o que é a saudade?”, várias respostas se sobrepõem e nunca existirá uma definição uníssona para descrever esta sensação.

Mas do que sentiremos nós saudade? Sentir saudade é sentir falta de algo, que está longe ou que simplesmente já não está. Por isso, a palavra pode ser aplicada em referência a diversas situações. É possível sentir saudade de pessoas, de locais, de sabores, de cheiros, de sentimentos, de momentos, de um livro, de ações ou até de nós. Sim, de nós próprios. Daquilo que fomos ou poderíamos ter sido. Daquilo que fomos porque simplesmente o experimentámos e deixou-nos marcas acres ou adocicadas; daquilo que poderíamos ter sido porque, não o sendo, deixou em nós a nostalgia dos tempos idos e as lembranças que se misturam com riscos de realidade, já enraizados com traços de fantasia ou de mero capricho. Muitas são as vezes em que estamos nostálgicos. Saudade de quê? Não sabemos exprimir, simplesmente sentimos.

A saudade faz doer, chega a corroer porque a dor que não tem explicação aparente, consome. Uma saudade, não anula a outra. Coisas simples, rotinas vulgares podem gerar grande saudade.

Escrever é um monólogo que encerra em si várias sensações, mas a melhor que pode despoletar a quem está do outro lado é um ato de saudade, porque uma coisa é falar-se de saudade, outra coisa é sentir-se. Só quem sente sabe o que é. Sem saudade não existimos, somos amorfos. A nossa saudade não pode ser apenas uma lembrança, temos de contemplá-la, porque não podemos sentir saudades do que não vivemos. 
  
Saudade é uma das palavras mais presentes na poesia da língua portuguesa, é talvez a génese do Fado que tão bem nos caracteriza. Também aqui descreve a mistura de sentimentos de perda, falta, distância e amor.

São tantas as vezes que com desprimor nos esquecemos do sítio de onde vimos. São tantas as outras em que não valorizamos a “nação valente e imortal”. São ainda muitas mais as vezes em que não apreciamos o sentimento de pertença. Estou certa de que a saudade flui para nos fazer lembrar, é uma espécie de amor que nunca morre.

Termino evocando a diáspora lusa, com um pequeno excerto de uma crónica, intitulada “Portugal” de Miguel Esteves Cardoso:

«Estou há que séculos para te escrever. A primeira vez que dei por ti foi quando dei pela tua falta. Tinha 19 anos e estava na Inglaterra. De repente, deixei de me sentir um homem do mundo e percebi, com tristeza, que era apenas mais um dos teus desesperados pretendentes. Apaixonaste-me sem que eu desse por isso. Deve ter sido durante os meus primeiros 18 anos de vida, quando estava em Portugal e só queria sair de ti. Insinuaste-te. Não fui eu que te escolhi. Quando descobri que te amava, já era tarde de mais.» Miguel Esteves Cardoso, in Jornal Público, 10 Junho 2011.

É assim, sem filtros, a saudade. Muitas vezes só o presente não é suficiente, resta-nos o futuro para entender a saudade!

“Saudade” sem filtros

by on dezembro 12, 2017
Não é fácil escrever sobre sentimentos. Mais difícil ainda é escrever sobre um sentimento que é uma mistura de tantos outros. “Saudade” é a...
Se o amor pode durar a vida inteira? Pode. Não é possível percebê-lo, não é fácil falar sobre ele porque, simplesmente, tudo o que se diga para descrevê-lo pode soar a “lamechas”. Penso muitas vezes que não conseguiria viver sem ti, embora tenha consciência de que na vida quase tudo se consegue. Casámos oficialmente um com o outro há 15 anos, mas na verdade casámos muito antes, há cerca de 25 anos.



Concordo com Miguel Esteves Cardoso quando diz num dos seus artigos: “percebo hoje a razão por que Auden disse que qualquer casamento duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões. Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las desse destino é a coisa mais bonita que se pode fazer”.

Atualmente, as relações são muito fugazes. Amar é fácil, resistir ao amor é difícil, e falar sobre ele deixa-nos sem graça. Porquê? Não é o amor o mais nobre dos sentimentos? Não desinquietou o grande Camões e inspirou Fernando Pessoa que fez do amor uma temática constante da sua obra literária? Amar exige compromisso e paciência. Exige entrega e sabedoria. Qualquer um se apaixona, mas nem todos conseguem amar. A paixão é fugaz, o amor é persistente.

Mas afinal o que é o amor? Somos nós, os nossos filhos e a soma das nossas vidas. As noites e os dias, as presenças e as ausências, que nos fortificam a alma e alimentam o ser. São as redundâncias, as banalidades, o altruísmo e as rotinas. E, assim, somos felizes porque todos os dias encontramos no amor mais motivos para amar. O amor torna-nos fortes, é ele que nos impele quando as dificuldades subsistem, faz-nos homens e mulheres mais predispostos a dar e a receber e, consequentemente, a partilhar e a sermos melhores. Neste sentido, muitos são os que, através dos tempos, procuram retratar o amor; são escritores, artistas, músicos e pintores que o descrevem, mesmo sem saber concretamente como fazê-lo. Descrevem o que sentem enquanto amam, são amados, e sentem o prazer do amor.

Porém, são muitas as vezes em que, na rotina do dia-a-dia, nos esquecemos do nosso amor. O tempo, ou a falta dele, é o pior inimigo dos que se amam.

O amor exige sustento, cuidado e paixão, mas os nossos dias loucos e frenéticos não se compadecem com ele e, por isso, o amor tem que ser nutrido com pequenos gestos. Sim porque o amor é grande, mas alimenta-se das mais ínfimas coisas. Chega a alienar-nos, a invadir-nos os pensamentos, quando tu falas eu já consigo prever o que vais dizer, o amor é uma espécie de ser omnipresente, que tudo sabe e tudo vê.

O meu amor por ti é um estado de alma e, embora a alma se possa encontrar em vários estados, o nosso amor está sempre atento a estas fusões. Não gosto de relações fáceis, demasiado perfeitas e previsíveis, porque o que não exige sacrifícios não vale a pena, é vulgar. Estou um pouco farta de coisas fáceis. Na verdade não sei do que falo porque eu própria não sou fácil. Como toda a gente. Mudo sempre que posso e consigo e, apesar dos meus defeitos, não suporto a falta de amor.

O amor é o ar que respiro. Penso, que exagero! Mas, depressa concluo que não conseguiria viver sem amor, não saberia viver sem ti, não saberia viver sem “nós”.

Este é o nosso amor, o «Amor em estado puro»! Parabéns a nós!

Amor ou paixão?

by on dezembro 02, 2017
Se o amor pode durar a vida inteira? Pode. Não é possível percebê-lo, não é fácil falar sobre ele porque, simplesmente, tudo o que se diga ...