Os Miseráveis”. Poderia estar a falar de uma das principais obras do escritor francês Victor Hugo. Um livro que retrata a sociedade francesa do século XIX e mostra o panorama socioeconómico da população mais pobre. Porém, a alusão foi feita recentemente, no programa «O Último Apaga a Luz», da RTP3, e diz respeito à Educação na sociedade portuguesa, mais concretamente aos professores.


Os resultados miseráveis dos nossos alunos são porque têm professores miseráveis. Miseráveis”, disse Rodrigo Moita de Deus, escritor e fundador de um dos blogues mais lidos do País. Segundo o PT Jornal (http://ptjornal.com/os-professores-sao-miseraveis-diz-rodrigo-moita-deus-215160) estas afirmações polémicas foram proferidas no referido programa por Rodrigo Moita de Deus, que teceu duras críticas aos professores, culpando-os dos resultados negativos dos alunos.

Não concordando com as afirmações proferidas, não me pareceria de todo descabido que se ouvissem mais os alunos e que fossem questionados sobre o que pensam das políticas educativas que lhes estão a ser incutidas e já agora se também temos alunos descontentes. Sim, porque todos já sabemos que existem professores descontentes e desmotivados. E os alunos estarão todos felizes e motivados?

O que realmente me preocupa é que há muitos anos que não se discutem políticas de Educação em Portugal. Discute-se, isso sim, a carreira dos professores, a progressão e o seu aumento salarial. Para quando uma greve dos professores contra o atual estado da Educação? Contra o excesso de alunos por turma, o ensino não diferenciado, os planos curriculares demasiado extensos e, por conseguinte, a matéria não consolidada? Sim, porque os professores são os primeiros a constatar que muita coisa vai mal dentro da sala de aula. Facilmente perceberão que o ensino massificado não satisfaz a grande maioria dos alunos e que as metas curriculares não são consistentes. Os alunos têm que ver utilidade no que aprendem, porque, se assim não for, nunca estarão predispostos a aprender o que “não serve para nada”. O aluno precisa de um ensino claro, objetivo, que o faça sentir parte do processo de ensino-aprendizagem, precisa de um ensino rigoroso.

Voltemos a Rodrigo Moita de Deus. Desta vez à resposta mais ou menos coletiva, que escreveu a todos os professores no seu blog (http://31daarmada.blogs.sapo.pt/) a propósito das reações às suas declarações. Atente-se no paralelismo que faz da escola pública com o ensino superior.  Passo a citar: “E o ensino superior também é subfinanciado. E o ensino superior também se pode queixar da falta de condições. E os professores do ensino superior também se podem queixar do congelamento das carreiras, da investigação que são obrigados a fazer, dos sistemas de avaliação, das horas extras ou da necessidade de apresentarem projetos para garantir as verbas necessárias para manterem os seus departamentos. E, mesmo assim, não os vemos na rua. Vemo-los a compararem-se com as melhores universidades internacionais. É a vida. E a maior parte deles fazem pela vida.” E os professores das escolas privadas serão assim tão bem pagos? Será por isso que se sentem desmotivados? Pois é, digo eu. Todos os funcionários públicos sabem o que é o subfinanciamento, não são só os professores. Todos sabem o que é não progredir na carreira e também sabem o que é desmotivação. Mais, todas as famílias portuguesas sabem o que foi e continua a ser a austeridade, mas infelizmente não se podem sentir desmotivadas, mas sim mais resilientes!

Existem professores de quem nunca me esquecerei. Recordo o nome, a cumplicidade, o apoio e a preocupação constantes. Sim, felizmente também há muito bons professores nas nossas escolas.

Conheci muitos professores inteiramente dedicados ao seu trabalho e à sua paixão pelo prazer de ensinar. Vejo, enquanto mãe (atenta) de dois alunos de ciclos diferentes, professores que pouco se importam com eles e outros que não desistem dos seus alunos.

O sucesso ou insucesso de uma turma deveriam ser vistos como uma consequência direta do seu mestre. Bons professores quase sempre conseguem ter bons alunos, ou pelo menos alunos motivados. Tudo isto para dizer o quê? Para dizer que uma das profissões mais importantes em qualquer sociedade é a de professor, que tem o desafio – e o prazer - de ensinar e ajudar a transformar as gerações. Um bom professor não é aquele que se limita a dar aulas.

PS – Neste artigo não estão incluídos os muitos professores que fazem da arte de ensinar a mais nobre e estimulante profissão do mundo.

“Os miseráveis”

by on novembro 23, 2017
“ Os   Miseráveis”. Poderia estar a falar de uma das principais obras do escritor francês Victor Hugo. Um livro que retrata a sociedade fra...

Tiveram cancro, mesmo antes de saberem o que a palavra significava. Outros já retiraram da memória qualquer lembrança. Foi há muito tempo, mas todos têm algo em comum: são DUROS. Todos os anos voltam, adolescentes, jovens e adultos, ao lugar onde foram “nenucos” carecas e crianças pálidas. Vão ao IPO de Lisboa à consulta dos DUROS, ou seja Doentes que Ultrapassaram a Realidade Oncológica com Sucesso. Após cinco anos sem qualquer sinal físico da doença, conquistam este "estatuto". Sim, ser um dos DUROS é um estatuto que infelizmente ainda não é para todos. A sugestão partiu de um pai e o nome não podia ser melhor, aliado ao logótipo que imita as letras do Super-Homem. O objetivo desta consulta é a vigilância a longo prazo, não só para acompanhar o seu percurso, mas também para adquirir mais conhecimentos sobre os possíveis efeitos secundários dos tratamentos, com vista a um melhor ajuste das terapêuticas. Todos os anos revivem (ou não) memórias, reveem pessoas que foram inexcedíveis e excecionais pela forma como os acolhem, acolheram e consolaram.

A consulta dos DUROS funciona desde 2007 e tem atualmente cerca de 800 utentes. É uma consulta de sobreviventes. Por ano, surgem em Portugal cerca de 400 novos casos de cancro pediátrico. Desses, 320 acabam por ser curados, mas o processo pode ser longo e doloroso. Segundo dados estatísticos, em 20 anos passou-se de 50% para 80% de casos de sucesso. Na Europa, esse número ronda os 13 mil. Destes, cerca de 80 por cento conseguem ultrapassar a doença.

Falar de cancro continua a ser difícil, mas falar de cancro pediátrico é ainda mais doloroso. Há cada vez mais crianças a sofrerem de doença oncológica. Ter cancro é limitar-lhes a exploração da vida. Quem mais do que uma criança para explorar o mundo? E este mundo não cabe em palavras.

Depois existem os pais, que têm mais memória. O seu papel é de tal forma importante que mesmo passados dez, quinze ou mais anos as marcas desta doença são também suas. São uma soma de marcas físicas que esta neoplasia maligna deixou e um conjunto de memórias dos progenitores que os acompanharam. Outros nem lembranças têm, porque simplesmente a memória não lhas permite ter. Os pais têm as memórias dos filhos, rigorosamente arquivadas, ainda mais nos casos em que o diagnóstico remonta aos primeiros meses de vida. E quando digo memórias, incluo tudo o que elas representam: um turbilhão de emoções, um questionar incessante, um sofrimento descomedido, revolta, angústia, desespero e uma força supra-humana.

Desse tempo, alguns meninos não recordam nada, mas os pais retêm a quimioterapia, o isolamento, as visitas dos “Doutores Palhaços”, os cateteres, as agulhas, as picadas constantes e tantos e tantos rostos que por lá vão continuando.

E o que ficou? O que fica de mais importante talvez não sejam os tratamentos em si, nem a forma como essa evidência de risco de vida foi vivida pela criança, mas sim pela sua família e pelo recordar constante de como é difícil “viver um dia de cada vez”.

Em Portugal, mais de 400 mil pessoas já tiveram uma doença oncológica e sobreviveram, continuando, ou não, em tratamentos. Estima-se que em 2030 um em cada mil adultos seja um sobrevivente de uma doença oncológica que surgiu até aos 18 anos.

Quando se fala nas consequências do cancro pediátrico, além das sequelas físicas, não podem ser esquecidas as psicossociais. Os pais superprotegem os filhos, sim é um facto. É inevitável que isso aconteça. Há uma crise de vida para a criança, há uma impotência permanente para os pais por não conseguirem protegê-los contra aquela adversidade. Depois, há o choque, a negação e o retomar da vida interrompida por um diagnóstico difícil.

No IPO de Lisboa cruzam-se várias idades, fins de vida e recomeços. Histórias sempre duras, mas com seres humanos ainda mais duros. Existem pais que, embora tenham vivido verdadeiros casos de sucesso, não conseguem voltar ali, ao IPO, porque neste centro de excelência existe um universo à parte, onde a vida é muito difícil e posta à prova. Todavia, este local assustador é uma verdadeira antítese e continua a ser especial para muitos outros.

É um facto que, cada vez mais, as crianças sobrevivem ao cancro. Muitas vezes, são esses pequenos heróis que nos ajudam a transformar a realidade e, com a sua força, ensinam-nos a despertar para uma nova vida ou pelo menos a vê-la de forma diferente. Se os heróis existem? Claro! Todos temos um!



DUROS

by on novembro 17, 2017
Tiveram cancro, mesmo antes de saberem o que a palavra significava. Outros já retiraram da memória qualquer lembrança. Foi há muito temp...


Não sou feminista. Basicamente, porque não considero que as mulheres sejam um ser inferior e porque também não concordo que tenha de ser comemorado um “Dia da mulher”, quando todos os dias são uma homenagem à vida, que só a mulher pode gerar.

Não sou feminista porque acredito que não preciso de sê-lo. Nunca me senti discriminada por ser mulher, mas sim por ser um ser humano e porque, infelizmente, ainda existem muitos com falta de caráter. Não sou feminista, sou pelos direitos das mulheres e pela igualdade de géneros. Insurjo-me perante toda e qualquer conjetura que aliene direitos fundamentais e que em nome de culturas reprimidas atente contra as mulheres.

Recuemos a 2005, espaço temporal relativamente próximo. O mais básico dos direitos políticos para as mulheres, o voto, ainda enfrentava grandes obstáculos. Nesse ano, pela primeira vez, na Arábia Saudita as mulheres puderam votar e candidatar-se à liderança dos municípios.

Ano 2017. A Arábia Saudita anunciou que ia autorizar as mulheres a conduzir. O que acho inconcebível é que se anuncie, como se de algo extraordinário se tratasse, que as mulheres vão passar a conduzir. Mas, saliente-se que esta medida põe, assim, fim a um dos principais símbolos de repressão às mulheres neste país. Todavia, a medida, que já foi tornada pública como um bastião, só deve ser implementada em junho de 2018, segundo a BBC. Mais grave, isto porque na Arábia ainda não existe um sistema preparado para ensinar mulheres a conduzir, nem para emitir licenças. Como é possível tamanha mesquinhez! O que terá de ter o sistema, diferente dos homens, e o que será preciso preparar? Além disso, segundo a BBC, a polícia também vai ter de se “adaptar” a interagir com mulheres (bicho raro), numa sociedade onde homens e mulheres não podem demonstrar afeto ou contacto direto.

Para 2018 está também marcada a estreia das mulheres em estádios de futebol. A Arábia Saudita vai autorizar que assistam a acontecimentos desportivos em três estádios: Riade, Jeddah (oeste) e Dammam (leste) começaram a ser preparados para receber famílias. Imagine-se que poucos dias antes de ser anunciada esta “dádiva” do rei Salman, centenas de mulheres sauditas tinham-se sentado pela primeira vez num estádio em Riade, para assistir a concertos e fogos-de-artifício, no feriado nacional. Até então nunca lhes tinha sido permitido que visitassem estádios, no âmbito da aplicação da regra de separação de géneros em espaços públicos. Como é possível que direitos tão básicos ainda sejam negados em pleno século XXI?

Como se não bastasse, na Arábia Saudita as mulheres ainda estão submetidas à tutela de um homem da família, normalmente o pai, o marido ou um irmão, para casar, viajar, obter passaporte e, em certas situações, para tratamentos médicos e para arranjar emprego.

Catorze anos desde que a África viu assinado o Protocolo de Maputo - um dos seus instrumentos legais mais progressistas sobre os direitos das mulheres – e violações ainda são comuns em todo o continente. Há disparidade, desigualdade e discriminação contra as mulheres em todos os lugares de África. O Protocolo de Maputo é a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os direitos das mulheres, que foi adotada em 2003 pela Assembleia dos Chefes de Estado e de Governo em Maputo, Moçambique.

Egipto. Recentemente, um tribunal egípcio condenou uma apresentadora de televisão a três anos de prisão. O motivo? Durante um programa, falou sobre gravidez fora do casamento. A apresentadora sobejamente conhecida, Doaa Salah, foi acusada de "ofender a decência pública" e “trabalhar para destruir as normas sociais.” Foi condenada a três anos de prisão e vai ter ainda de pagar 10 mil libras egípcias para permanecer em liberdade até recorrer da sentença.

No que concerne à desigualdade entre homens e mulheres, o top 5 dos países que apresentam melhor índice é dominado por nações nórdicas, com a Islândia em primeiro lugar, seguida pela Noruega, Finlândia, Suécia e Dinamarca. No lado oposto do ranking estão Mali, Síria, Paquistão e Iêmen, países com as maiores percentagens de desigualdade entre homens e mulheres.

Como se pode verificar esta aparente universalidade esconde, na realidade, uma ausência gritante de paridade.

Não sou feminista porque não sou de modas e considero que este movimento perdeu a sua essência. Sou contra tudo que apele ao ódio entre ideais e opiniões diferentes. Sempre admirei mulheres líderes, independentes, que lutam pelas suas ideias, como Joana d’Arc, Mary Wollstonecraft, Eleanor Roosevelt, Madre Teresa, Princesa Diana, Anita Garibaldi, Malala Yousafzai, Bertha Lutz, entre muitas outras mulheres anónimas, que mudaram a história do mundo, lutando diariamente pelos seus direitos, por mais ínfimos que fossem.

Repugno qualquer machismo que coloca o homem acima da mulher, mas também repudio o feminismo que incentiva o abandono da cultura de família, que desvaloriza fraternidade, porque acredito que homens e mulheres nasceram para viver em conjunto, para se completarem, sem qualquer vassalagem física ou emocional.

Valorizo as relações humanas e os valores morais, como respeito, justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade, etc. Ora, os seres humanos são os responsáveis pela criação e desenvolvimento destes valores. Desta forma, existem reflexões que nos libertam e outras onde fica tanto por dizer.

Não. Não sou feminista, sou pelos direitos das mulheres e pela igualdade de géneros. Sou humanista.



Não sou feminista (ponto).

by on novembro 13, 2017
Não sou feminista. Basicamente, porque não considero que as mulheres sejam um ser inferior e porque também não concordo que tenha de ...


Os grandes amigos devem conseguir perceber o que não está ao alcance dos amigos comuns. Devem fazer-nos ver e ouvir mais do que conseguiríamos sem a sua presença. A tarefa dos amigos é muitas vezes inglória porque têm obrigação de se pronunciar com um certo distanciamento, ao mesmo tempo que não podem deixar de ser amigos. Ora, isto exige imensos recursos de compreensão e aceitação, mas, enriquecendo o sentido das palavras e mostrando o quanto elas podem querer dizer, torna-se possível elevar a amizade e prolongá-la numa extensão maior. Nós, os amigos, temos uma linguagem especial, através da qual todas as coisas podem ser transmitidas. Porém, também os amigos precisam de compreender que muitas vezes um “não” é uma manifestação de uma amizade cristalina.

Entre tantas exigências do quotidiano, muitos são os momentos em que nos esquecemos dos nossos amigos e não conseguimos reter o que é indispensável para a nossa amizade! É certo que podemos seguir caminhos diferentes, mas o sucesso da nossa caminhada depende dos que caminharam connosco.

Aparentemente, a amizade é uma relação afetiva entre duas ou mais pessoas. Em sentido amplo, pode ser um relacionamento humano que envolve conhecimento mútuo e afeição, além de lealdade e altruísmo. Neste aspeto, poder-se-á dizer que é uma relação demasiado complexa. Ou demasiado simples porque ou se é ou não se é amigo. Depois existem aqueles seres maravilhosos que passamos anos sem ver, mas que estão cá, e ao mínimo sinal verificamos que ocupam o lugar onde sempre estiveram.

Hoje, apeteceu-me homenagear os meus amigos! Só porque sim. Os de sempre e os que fui construindo, porque nenhum de nós, sozinho, faz o mais pequeno sentido.

“Friends will be friends right till the end”.

Friends Will Be Friends

by on novembro 07, 2017
Os grandes amigos devem conseguir perceber o que não está ao alcance dos amigos comuns. Devem fazer-nos ver e ouvir mais do que c...
Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza a um lago. Narciso estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu nasceu uma flor a que chamaram Narciso. E assim, nasceu uma lenda...


Através da tradição oral, esta e muitas outras lendas chegaram aos nossos dias. São tantas que hoje torna-se difícil separar o que é realidade, do que poderá ser meramente ficção, e a verdade é que muitos acreditam nelas.

A lenda de Narciso pode explicar e alertar para a crença de uns e para a descrença de outros. O egocentrismo dos nossos dias e o fascínio que sentimos por nós próprios, tal como Narciso, faz com que muitas vezes julguemos as nossas verdades – entenda-se crenças – como realidades absolutas.

Voltemos ao Narciso, desta vez à forma como Oscar Wilde acabava a história. Ele dizia que quando Narciso morreu vieram as Oréiades - deusas do bosque – e viram o lago de água doce transformado num cântaro de lágrimas salgadas. “Porque choras?” – perguntaram as Oréiades. “Choro por Narciso” – respondeu o lago. As Oréiades não ficaram surpreendidas, afinal sempre tinham corrido atrás do Narciso pelo bosque e – pensavam elas – o lago era o único que contemplara de perto a sua beleza! E acreditavam piamente nesta verdade, aliás tinham necessidade de acreditar nela para entender a essência da sua “busca”... Mas seria o lago conhecedor da beleza de Narciso? Terão os nossos olhos o mesmo protótipo de beleza? Todos conseguirão alcançar os mesmos horizontes e visualizar as mesmas dimensões?

O lago ficou durante muito tempo silencioso aquando da pergunta das Oréiades - “quem mais do que tu poderia conhecer a beleza de Narciso?”- e, por fim, respondeu: “eu choro por Narciso mas nunca tinha percebido que ele era belo.” Posso revelar-lhes que o lago chorava por Narciso porque todas as vezes que Narciso se debruçava sobre as suas águas, o lago podia ver, no fundo dos seus olhos, a sua própria beleza refletida.

O mundo das aparências é demasiado complexo e cada um de nós tem uma maneira diferente de apreender o sentido das coisas, mas todos procuramos nelas uma resposta para a nossa crença pessoal. Sempre existiu uma linguagem que está para além das palavras. É nesse limiar, que separa o visível do invisível e o palpável do não palpável, que residem muitas das respostas às nossas perguntas.

Eu acredito naquilo que a minha crença me faz acreditar e considero que, embora este texto seja simbólico, contém verdades que o nosso pensamento se recusa a aceitar, talvez pela sua simplicidade. Ou porque possui uma linguagem dirigida ao coração e não há razão.

O importante é cada um seguir o seu sonho, nem que para isso tenhamos que enfrentar as maiores dificuldades, atravessar desertos e defrontar os mistérios que acompanham e acompanharão o Homem desde o começo dos tempos.

Deus ou deuses, religião ou religiões, milagres ou fé, o ser humano necessita de acreditar em algo que reavive a sua força interior.

Eu tenho a minha crença e acredito na existência do Narciso, encontro-o cada vez que atravesso os bosques, através do seu odor. Depois passo pelo lago, contemplo a sua beleza e revejo a minha aura, ao mesmo tempo que o lago vê a sua beleza reflectida nos meus olhos.

Acredito que a minha crença pode ser interpretada de diversas formas. “O que há de bom ou mau em qualquer crença, «qualquer», é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença.” Fernando Pessoa

O fascínio do Narciso

by on novembro 03, 2017
Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza a um lago. Narciso estava tão fascinado por si mesmo que cer...
Início do ano escolar. Este ano vai ser diferente. Vamos começar em harmonia. Duas semanas depois, gritos, reprimendas, cansaço e exaustão! Estas são algumas das consequências imediatas do excesso dos chamados TPC (Trabalhos para casa) na nossa “vida familiar”.

As transições entre ciclos de ensino são sempre momentos marcantes na vida social e emocional dos alunos, pais e professores, mas também pontos nevrálgicos do Sistema Educativo.

É inacreditável aquilo que estão a fazer às nossas crianças. Além da matéria programada para o ano letivo ser demasiada e extremamente exigente, além da carga horária ser muitas vezes elevada, além do excesso de trabalhos de casa, ainda querem que as crianças deixem de ser crianças.



Como mãe de duas crianças em idade escolar sinto-me preocupada com o estado atual da Educação. Existem demasiados “ses” que são contraproducentes para a dinâmica escolar e que poderiam ser perfeitamente evitados se o ensino fosse pensado e estruturado de uma forma mais direcionada e se fossem respeitados simples pressupostos como evitar salas de aula superlotadas, professores desmotivados e uma relação aluno/professor menos distanciada. Dito de outra forma evitar a “carneirada”, designação que em sentido figurado se refere a um conjunto de pessoas que imitam outras só por ignorância ou servilismo. Dentro de uma sala de aula, com trinta alunos, não podem ser respeitadas as individualidades, nem tão pouco os ritmos de aprendizagem de cada um. Não posso deixar de referir o peso excessivo das mochilas que diariamente carregam, completamente desadequado à estrutura e à idade, direi mesmo inconcebível! Poderia enumerar mais, mas estou convicta de que muitos destes fatores contribuirão, por certo, para a descida da autoestima e para o declínio da motivação de alguns alunos.

Considero que a forma como o ambiente e o contexto da nova escola satisfazem as necessidades dos nossos adolescentes terão um papel importante nos seus percursos académicos e nas suas vidas pessoais. Na minha opinião, as características gerais das escolas estão em conflito com as necessidades dos adolescentes. A articulação curricular e as práticas de ensino deveriam ser bem discutidas entre as escolas emissoras e as recetoras. Os momentos de transição entre ciclos, sobretudo entre o 1º e o 2º, devem ser repensados. Vários estudos e muitos autores, apontam-nos como problemáticos e precipitadores de situações de tensão e de stress que podem converter-se no insucesso escolar. As escolas devem, por isso, estar mais atentas, e desenvolver práticas de articulação e integração que atenuem os efeitos nocivos que estas fases de mudança, por si só, acarretam.

Atenção, tal como o psicólogo Eduardo Sá, também eu considero que muito professores “trabalham imenso, em condições muito adversas e, mesmo sendo constantemente desconsiderados, persistem”. Todavia, também já pude presenciar que outros, porém, não têm qualquer vocação para ensinar, nem tão pouco sabem ou conseguem fazê-lo. 

A Escola está, cada vez mais, a abranger a criança e o adolescente no seu todo. No entanto,  são fatores como a confiança física e emocional, as capacidades sociais e as expectativas pessoais que originam alunos e escolas de sucesso.

A família e a Escola constituem, assim, os dois principais ambientes de desenvolvimento dos nossos filhos. Como mãe, considero que é fundamental implementar políticas de maior aproximação entre os dois contextos, de forma a respeitar as particularidades e também similaridades, sobretudo no que diz respeito aos processos de desenvolvimento e à aprendizagem. Mas para isso, a Escola tem de se abrir mais à sociedade e, por conseguinte, à família! E a sociedade? Já dizia Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão-pouco a sociedade muda”. 

A terminar seguro o folheto informativo que a escola do meu filho mais velho, no 7ºano de escolaridade, entregou aos encarregados de educação neste ano letivo. Contém informações básicas sobre a escola e sobre o seu funcionamento, como serviços, horário, nomes dos professores, entre outras. Todas de grande utilidade. Mas, logo na folha de rosto, sobressai o seguinte excerto de Alexandre O'Neill:

«Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo»!
«Amigo» é um sorriso 
De boca em boca, 
Um olhar bem limpo, 
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, 
Um coração pronto a pulsar.»

Quem nos dera que esta fosse a nossa Escola!

Agenda lotada

by on novembro 03, 2017
Início do ano escolar. Este ano vai ser diferente. Vamos começar em harmonia. Duas semanas depois, gritos, reprimendas, cansaço e exaustão...

Em nome do mundo sempre existiu a necessidade de comunicar. Com mais ou menos eloquência, comunicar é uma necessidade do ser humano. A arte de bem comunicar tornou-se um imperativo das sociedades modernas e é, muitas vezes, um fator fundamental para alcançar o sucesso. Os grandes mestres da comunicação já diziam que dominar a persuasão é um fator determinante para obter o êxito. A base de uma sociedade equilibrada é, sem dúvida, a comunicação.


A história do Homem prende-se com a presença do próprio pensamento. É unânime entre os arqueólogos que já na pré-história os homens utilizavam as gravuras rupestres com a finalidade de manterem a comunicação. E assim foi ao longo dos tempos. Comunicar é uma motivação humana.


O Universo está em permanente comunicação. O ser humano precisa diariamente de alimentos que forneçam os nutrientes ao organismo, necessita do ar que respira, testemunha a troca de oxigénio e dióxido de carbono entre as plantas e os seres vivos. O coração realiza os movimentos de sístole e diástole que fazem com que o sangue circule pelo nosso organismo e tudo funcione na perfeição. Os médicos utilizam as suas bases científicas para curar os doentes. O Universo brinda-nos com fenómenos que, posteriormente, serão interpretados e analisados pelos cientistas. A vida, os organismos e a natureza estão repletos de mensagens que diariamente falam entre si.

A sociedade contemporânea é impiedosa para com aqueles que se recusam a comunicar. Tudo o que precisamos está na internet, o facilitismo está na sua génese e faz-nos confluir para a sua galáxia. Tudo nos leva a crer que é fácil comunicar! Todavia, basta um dia sem conexão, sem enviar ou receber mensagens, para que nos sintamos perdidos e isolados.

Do outro lado, famílias que não trocam um abraço, amigos que não se cruzam, casais que não se tocam. Tom Peters, uma espécie de guru da gestão de negócios que tem procurado combater a imobilidade e a falta de paixão no trabalho, escreveu que “na era do e-mail, do poder do supercomputador, da internet e da globalização, a atenção – uma prova de generosidade humana – constitui o melhor presente que podemos dar a alguém.” As redes sociais transformaram-se em desabafos gritantes, que ofuscam a realidade, sem nos deixar discernimento para respeitar e linha ténue que a separa da ficção. Conhecemos a vida dos que nos rodeiam. Quantos filhos têm, o que almoçaram ou jantaram, o novo corte de cabelo, quando e onde vão de férias, se estão a sentir-se pensativos, furiosos ou felizes. E tudo graças às redes sociais. A internet entra literalmente pelas nossas vidas. A comunicação é feita em tempo recorde, mas o mundo virtual ocupa-nos tanto tempo que esquecemos o mundo real.

Deixámos de comunicar, de conversar, de dialogar, de ouvir. É um facto. Já ninguém se escuta. Todos queremos falar e todos queremos ser escutados. O silêncio e a solidão são insuportáveis no quotidiano.

Atente-se no título do livro de Daniel Sampaio, «Ninguém morre sozinho». Permitam-me discordar. Recentemente um homem com cerca de 50 anos foi encontrado morto no interior do seu apartamento, em Faro. Segundo notícias veiculadas já estaria morto há cerca de três meses, e segundo vizinhos já não era visto há vários meses nas proximidades da sua habitação, nem nos locais que habitualmente frequentava. Este é apenas um exemplo, mas infelizmente é cada vez menos raro. Onde impera o poder da comunicação? Nós, comunicadores natos, nem conseguimos comunicar com o vizinho do lado! Estamos na Era da globalização, mas, paradoxalmente, comunicamos cada vez menos. A capacidade de comunicar reside em saber escutar, e saber escutar exige mestria e disponibilidade. Sejamos mais disponíveis!

O poder de comunicar

by on novembro 02, 2017
Em nome do mundo sempre existiu a necessidade de comunicar. Com mais ou menos eloquência, comunicar é uma necessidade do ser humano. A ar...