Parece estar comprovado que as crianças e os jovens com maior domínio sobre as suas emoções têm melhor desempenho escolar, maior capacidade de integração, maior predisposição para enfrentar e superar as dificuldades e menor probabilidade de seguirem comportamentos de risco. Vários estudos também atribuem muitos dos problemas dos adultos às dificuldades em controlar as suas emoções. 


Em poucas palavras, podemos dizer que a inteligência emocional está intrinsecamente associada à capacidade de conhecer, compreender, gerir e perceber as nossas emoções e as dos outros de forma positiva. Já Platão dizia que toda a aprendizagem assenta numa base emocional. E talvez tivesse razão! 

O desenvolvimento emocional é um processo de construção que sofre grandes influências do meio, e as escolas deviam exercer um papel mais ativo na formação das crianças e dos jovens e na forma como exploram - ou não - as suas emoções. 

Atualmente, em alguns países já se pratica a educação emocional na escola, mas Portugal está muito longe dessa realidade. Por exemplo, num estudo divulgado recentemente pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), as escolas dos distritos de Faro e de Beja são as que mais fracassaram no objetivo de levar os seus alunos a concluir o 1.º ciclo do ensino básico em quatro anos. O mesmo estudo refere ainda que os alunos dos dois distritos também ficam aquém do que seria de esperar no 2.º ciclo. E, se estudos houvesse, provavelmente também o ficariam no 3º ciclo. 

Num artigo publicado no jornal «Público» sobre o mesmo estudo, o papel das famílias é visto como “fundamental” por Carlos Luís, diretor do agrupamento de escolas João de Deus, em Faro, um dos distritos com pior desempenho nos indicadores divulgados pela DGEEC. O diretor afirmou ao mesmo jornal que “faz toda a diferença a forma como os pais olham para a importância da escola na vida dos filhos”, algo que ajudará a perceber o desempenho do Algarve. 

Não discordando totalmente, importa referir que, muitas vezes, são as próprias escolas que fomentam a pouca articulação com as famílias. Talvez este desligamento não se verifique tanto ao nível do 1º ciclo, mas começa a ser notório no 2º e ainda mais acentuado no 3º ciclo. Muitas escolas não aceitam intromissões, quer sejam meras sugestões, quer seja o feedback de algumas das preocupações ou anseios dos alunos. Quando se pede uma maior articulação entre a família e a escola, pede-se apenas a participação de pais passivos, sem opinião, que não questionem. O mesmo se passa com os alunos, cria-se o estereótipo do bom aluno, não se respeitando as individualidades, como se de um “rebanho de carneiros” se tratasse! Uma escola que não elege o aluno como figura central do seu regulamento interno, está condenada ao fracasso! 

Segundo notícia do mesmo jornal, tendo por base um estudo, divulgado no passado mês de dezembro, sobre os estilos de vida dos adolescentes portugueses, em cada 100, quase 30 (29,6%) dos adolescentes dizem que não gostam da escola. Mas o que mais surpreendeu os autores foram os níveis de exaustão e de tristeza: 17,9% dos adolescentes inquiridos disseram-se cansados e exaustos “quase todos os dias”, 12,7% acusaram dificuldades em adormecer e 5,9% confessaram que se sentem “tão tristes que não aguentam”. Em 1998, 13,1% dos alunos diziam não gostar da escola. Vinte anos depois, essa percentagem aumentou para os referidos 29,6%. A mesma notícia cita ainda a investigadora Margarida Gaspar de Matos, que considera que “o ensino está todo virado para a nota em vez de estar para o conhecimento académico e das pessoas. E isto é uma escola muito punitiva. É uma escola que existe para enfardar conhecimento e não para fazer com que as pessoas desabrochem”. 

Uma escola que não ministra a educação emocional em linhas transversais, interligando diversas disciplinas por meio da colaboração dos professores, não evolui. Uma escola com professores que não conseguem regular as suas próprias emoções para que possam direcionar crianças e adolescentes nessa mesma tarefa, forma alunos inseguros, com baixa autoestima e comportamentos compulsivos. 

Segundo a Direção Geral de Educação (DGE), “na componente do currículo de Cidadania os professores têm como missão preparar os alunos para a vida, para serem cidadãos democráticos, participativos e humanistas, numa época de diversidade social e cultural crescente, no sentido de promover a tolerância e a não discriminação, bem como de suprimir os radicalismos violentos”. 

A inteligência emocional é traduzida em habilidades práticas, como a habilidade de saber o que eu sinto e o que o outro sente, o controle emocional e o talento para nos motivar, assim como a empatia e as habilidades sociais. Enquanto a disciplina de Cidadania for avaliada tendo em conta o aproveitamento geral das outras disciplinas, nunca se contribuirá para que no futuro possamos ter adultos e adultas com uma conduta cívica que privilegie a igualdade nas relações interpessoais, a integração da diferença, o respeito pelos Direitos Humanos e a valorização de valores e conceitos de cidadania nacional» (cf. Preâmbulo do Despacho n.º 6173/2016, de 10 de maio). 

Isto de ser “bom aluno” tem que se lhe diga! E se for um aluno “rebelde”, como no filme de Robin Williams e Matt Damon? Talvez o que a escola atual precise é de mais professores como o interpretado por Robin Williams, pouco ortodoxo é certo, mas que, com o seu talento e sabedoria, conseguiu inspirar os seus alunos a perseguirem as suas paixões individuais, tornando as suas vidas muito mais extraordinárias!