É Natal! Crentes de todas as crenças e não crentes assinalam a efeméride! Como uma espécie de magia tudo se transforma em algo mais belo e harmonioso. O Natal é tempo de dar, de receber, de distribuir afetos. É a época em que o amor irradia.


No Natal, a vida ganha luz, as pessoas conquistam sorrisos e os corações enchem-se de alegria. A tradição repete-se todos os anos, mas em cada Natal existe algo de novo e diferente, uma surpresa especial, que nos faz sentir uma nova sensação e a certeza de termos vivido uma noite única. 

Muito já se escreveu sobre o Natal e sobre o seu significado para cristãos e não cristãos de todo o mundo. Na verdade, existe uma espécie de fenómeno sobre o qual muitas vezes me interrogo e para o qual não encontro uma razão aparente. A data transcende qualquer religião e evoca sentimentos de amor, amizade, solidariedade, aconchego e fraternidade. Mesmo com a excessiva comercialização que se vive na atualidade, ainda são muitos os sentimentos, juntamente com os crentes na religião católica, na qual eu me incluo, que predominam na hora de o celebrar em família. Esta mistura de emoções, que se perpetuam de geração em geração, só poderá ter uma intervenção divina. O Menino Jesus existe mesmo! 

Este ano há um lugar vazio à mesa, uma saudade que ficou, um sentimento enorme daquilo que foi, mas que continua a ocupar muito espaço dentro do coração. Mas, é Natal e tudo se transforma numa doce memória. 

Aproveitemos a oportunidade para estar ao lado dos que amamos. Celebremos o amor pelos outros, pela família, pelos amigos. Agradeçamos cada momento. 

O dia de Natal é um dos feridos mais importantes do calendário católico e o dia do ano mais esperado pelas crianças. É o “Amor em estado puro”! 

Nesta quadra que se celebra a família, é de nossa responsabilidade implantar nas nossas vidas esta energia contagiante. Se pesquisamos um pouco mais, vemos que sua origem se perde na Antiguidade, nas primeiras e remotas crenças humanas, às quais, ao longo dos séculos, se foram incorporando novas tradições. Desde o Império Romano, o Natal tem sido uma luta entre religiosos e pagãos, entre a festa e a liturgia, que se prolonga até ao consumo desenfreado nos centros comerciais. Na Antiguidade, o Natal era comemorado em várias datas diferentes, pois não se sabia com exatidão a data do nascimento de Jesus. Foi somente no século IV que o dia 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial. Na Roma Antiga, este dia era a data em que os romanos comemoravam o início do inverno. Portanto, acredita-se que haja uma relação entre este facto e a oficialização da comemoração do Natal. Para os que acreditam ou não no nascimento do Menino Jesus importa perceber que o Natal só estará completo quando nascer nos nossos corações. De nada adiantarão os pinheiros enfeitados, os embrulhos, os jantares de consoada, se não tivermos o principal ingrediente: o AMOR! 

Não basta prepararmos uma requintada ceia natalina, se ao nosso lado continuar a faltar a alegria nos olhos de muitas crianças que nada têm para receber. Natal é tempo de comemorar a vida, espalhar o amor e semear a esperança. 

Dizem que a melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio dos nossos corações e que aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham na nossa caminhada. Ouçamos o silêncio! 

Não existem limites para os nossos sonhos, basta acreditar. Feliz Natal!

O Menino Jesus existe mesmo!

by on dezembro 23, 2018
É Natal! Crentes de todas as crenças e não crentes assinalam a efeméride! Como uma espécie de magia tudo se transforma em algo mais belo e ...
Numa sociedade cada vez mais dependente da ciência e da tecnologia não podem existir investigadores solitários. Comunicar conclusões científicas é, por isso, natural, e ainda bem que assim o é, em prol da própria ciência.


Clareza e exatidão devem caraterizar qualquer tipo de comunicação. O bom uso da linguagem, o cumprimento das regras gramaticais, a permanente atenção a certos vícios e incorreções são fatores determinantes para uma comunicação assertiva, objetiva, convincente e sem rodeios.

Todavia, para comunicar, quer seja Ciência, Arte, Música, Pintura, Cinema, Literatura ou Teatro, é necessária uma enorme inteligência emocional, porque ao colocar-nos no lugar do recetor, estamos a utilizar argumentos que o poderão ajudar a uma melhor receção da mensagem. A liberdade de comunicação aumenta a responsabilidade daquilo que se transmite e, consequentemente, dos possíveis efeitos. A ciência suscita credibilidade. O problema é particularmente visível quando se utiliza uma comunicação persuasiva. Por exemplo, quando não existe uma fronteira entre manipulação e precisão. Quando o leitor se sente defraudado, a informação tende a ser frágil e descredibilizada, seja qual for o acontecimento ou circunstância a comunicar. Assim é na Ciência.

Comunicar Ciência não é fácil. Nem difícil. É como comunicar qualquer outra temática. O uso da retórica e, consequentemente, da argumentação corre o risco de manipular, de nos colocarmos “em bicos de pés”, de camuflar a verdade ou relativizar o absoluto. A comunicação de Ciência, tal como qualquer outra, obedece, ou deve obedecer, ao princípio universal da ética, baseando-se no acordo sobre os princípios de informar e não na arte de parecer ciência.

A Ciência é uma forma de pensar e, até hoje, tem sido a melhor e mais bem-sucedida a esclarecer os mistérios que nos rodeiam. Por isso, não é de surpreender que, por vezes, nos sirvamos dela para comunicar o que parece ser e não o que realmente é. Quem tenta comunicar, de forma eficaz, resultados duvidosos, precisa de simular uma aparência científica.

O público é confrontado com descobertas quase diárias. Atualmente, temas como o cancro, as neurociências, a nanotecnologia, a genética, qualquer tema que possa exercer sensacionalismo sobre o leitor, são explorados desonestamente, muitas vezes sem se pensar nos efeitos nefastos que estas supostas descobertas podem causar nos que vivem de perto dramas reais. Frases como “Cientistas pensam ter descoberto novas terapias para o cancro…”, “Cientistas acreditam ter encontrado a cura para…” não devem ser utilizadas em nome da ciência porque ainda o não são, e o que ainda não é não deve ser comunicado como tal. Quando assim se comunica devem ter-se em conta as evidências produzidas pela ciência, mesmo sabendo que as descobertas podem mudar a qualquer momento. Dizer-se que os cientistas “acreditam” que os seus resultados vão mudar algo, sugere-se, falsamente, que esta aceitação não é baseada na ciência, mas, de alguma forma, na fé. Expressões como “caso venha a confirmar-se” ou “acredita-se que estes resultados” são comummente usadas em notícias sobre ciência, quando são em tudo antagónicas à própria Ciência. Esta proximidade da ciência e da fé, ou seja, acreditar sem ter provas, tende a lembrar religião, que descreve o sobrenatural, algo que a ciência não pode, nem quer, realizar. É ridículo dizer que “acredito” no telemóvel. Eu sei dos seus benefícios, baseada nas evidências que o mesmo produz. Isto é ciência.

É certo que novos avanços podem produzir sempre novas certezas, que podem contribuir para a reavaliação das descobertas anteriores, mas isso é parte da ciência, um processo constante e dinâmico que continua a trazer novas questões e respostas.

Os lugares-comuns, as frases feitas e os chavões devem ser evitados. Nunca se pode escrever tudo. Na escolha de qualquer comunicação, incluindo a ciência, na seleção de qualquer ângulo de abordagem deverá prevalecer sempre o rigor da informação.

Em Ciência, a obrigatoriedade de partilhar com a sociedade os resultados obtidos deverá ser uma premissa, mas informar e comunicar com precisão deverá ser um princípio basilar.

Citando Sandra Duarte Tavares, linguística portuguesa, «reinventando o clássico cliché “nós somos aquilo que comemos”, nós somos, sem sombra de dúvida, aquilo que comunicamos!»


Somos provincianos. Demasiado provincianos. Regionalistas. Só conseguimos ver em torno do próprio umbigo. Atestado de hipocrisia é não olhar o mundo e perceber que todas as reações são consequências das nossas ações.



A ironia é que para o provinciano só há uma terapia: é saber que ele existe. O provincianismo vive da imprudência de nos considerarmos civilizados, demasiado civilizados quando o não somos, de nos julgarmos superiores precisamente pelas qualidades por que o não somos. Fernando Pessoa resumiu-o brilhantemente: “o provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz”. Ora, o princípio da qualquer verdade está no conhecimento do erro.

A síndrome do provinciano compreende uma visão limitada do mundo, que é muito mais do que a nossa casa, a nossa cidade ou a nossa região.  Muito se escreve sobre o interior, sobre o norte, sobre o sul, sobre esta ou aquela região, numa visão tão ínfima que nos impede de alcançar o universal, que é nossa pertença, a nossa herança e que amanhã será o legado das gerações vindouras.

“Não há dúvida de que deveríamos sentir vergonha”, disse Lise Grande, coordenadora residente da ONU no Iémen, segundo notícia avançada pelo SOL. “Não há dúvida de que deveríamos sentir vergonha e, sempre que acordássemos, deveríamos renovar o nosso compromisso em fazer o máximo possível para ajudar as pessoas que sofrem com este conflito”, refere a mesma fonte. Iémen. Doze milhões em risco pela maior fome dos últimos 100 anos. O que é o nosso “mundinho” perante esta realidade tão impiedosa?

António Guterres diz que a ONU oferece ajuda humanitária a oito milhões de pessoas naquele país, um número que pode aumentar para 14 milhões em 2019, mas que há o risco de ocorrer “a maior fome dos últimos anos”. Mais, acrescenta, “sem essa ajuda humanitária, teríamos uma fome de uma dimensão desconhecida neste século”. Três quartos de uma população de 30 milhões de pessoas precisa de ajuda e mais de oito milhões dependem de ajuda externa para conseguir sobreviver, ou seja permanecer vivo apesar das contrariedades. Sobreviver é o contrário de morrer. É manter-se no limite. Já viver, é usufruir da vida com saúde, paz, conforto, pleno bem-estar físico, mental e social.

A ONG britânica Save The Children já tinha alertado para a realidade vivida pelas crianças neste país. Em setembro, mais de cinco milhões de crianças já se encontravam em risco de fome. O secretário-geral da ONU já referiu que existe um consenso entre as potências mundiais de que é preciso terminar a guerra no Iémen. As palavras de Guterres foram ditas depois de esta crise ter sido tema das reuniões realizadas entre alguns dos líderes das grandes potências em Paris, por ocasião das cerimónias do centenário do armistício da Primeira Guerra Mundial. Mas, o problema maior é que estamos perante uma guerra em que nunca haverá vencedores!

“A ofensiva militar em curso dentro e em volta da cidade de Hodeida e no seu porto intensificou-se nos últimos dias, com civis apanhados no meio do fogo cruzado, que são quem, definitivamente, pagam o preço do conflito”, declarou uma porta-voz de Federica Mogherini, em comunicado. Nós que somos uma sociedade de leis, não conseguimos respeitar a mais nobre das leis, a lei humanitária.

O que cada um de nós poderá fazer? É sabido que as pessoas não querem guerra. Serão sempre os líderes dos países que determinam a política e orientam o seu povo, seja em democracia ou ditadura. Querer acabar com a fome deve ser dos mais nobres desígnios de uma cultura. Pode ser por diversas motivações, mas deverá ser sempre um projeto individual e coletivo, sobretudo quando se sabe, mas nunca o suficiente, do sofrimento que as guerras implicam. A questão é saber como poderemos ajudar, não tanto o que nos motiva, não basta olhar e lamentar.

Viver na ignorância pode ser menos doloroso, mas só até percebermos que somos ignorantes. 

Saber que mais de cinco milhões de crianças já se encontravam em risco de fome é uma dor d'alma! Como poderemos ajudar? Talvez seja impossível, mas se pudesse ajudar a salvar apenas uma, sentir-me-ia mais humana.

Não nos escondamos atrás da ignorância de não conseguir, mas sim da inteligência de querer fazer mais. “Não há dúvida de que deveríamos sentir vergonha!”

Foto: New York Times




Uma guerra sem vencedores!

by on novembro 20, 2018
Somos provincianos. Demasiado provincianos. Regionalistas. Só conseguimos ver em torno do próprio umbigo. Atestado de hipocrisia é não ol...

Primeiro pressuposto: nas relações não existem verdades absolutas. Qualquer história ou facto terá sempre três perspetivas. Duas dos atores envolvidos e a outra será sempre a de cada um de nós. Dito isto, importa também esclarecer que os dois lados mais importantes da história serão sempre os dos envolvidos. Contudo, ambos os lados deverão ser olhados equitativamente, sem moralismos ou falsos pudores. O meu lado, ou a minha perspetiva será sempre secundária, baseada em suposições, em factos divulgados nas entrelinhas e, muitas vezes, no bom senso.
Porém, existe um princípio fundamental no direito penal português, como no de muitos outros Estados: a presunção de inocência. Este princípio não se esgota no processo propriamente dito: estende‑se à organização dos tribunais e à execução de penas. A presunção de inocência significa que toda a pessoa é considerada inocente até ter sido condenada por sentença transitada em julgado - isto é, da qual já não se pode recorrer - num tribunal criminal. Não basta alguém ser acusado para ser culpado. E, feita a nota introdutória, vou centrar-me no muito que se tem dito e escrito, a bem da verdade diga-se muito mal escrito, sobre Cristiano Ronaldo, que está a ser acusado pela norte-americana Kathryn Mayorga de violação.

Apetece-me dizer: “tenham tento na língua”! O primeiro-ministro António Costa lembrou que CR7 "muito tem honrado e prestigiado Portugal". O que não lhe servirá de atenuante para qualquer condenação. Reitere-se, uma vez mais, que toda a pessoa é considerada inocente até prova em contrário.

Não sou jurista e como tal não quero entrar em demasiadas considerações desse foro, mas conheço os meus mais elementares direitos e liberdades. Sei que uma suspeita, um indício ou mesmo a condição de arguido, nunca significará que se possa considerar uma pessoa culpada do que quer que seja. Há dois valores fundamentais que definem se uma sociedade é ou não evoluída, o primeiro é a Liberdade e, em simultâneo, o Estado de Direito Democrático. Certo é que nem a Liberdade, nem o Estado de Direito Democrático toleram que seja admissível julgar, condenar e linchar em praça pública. Se qualquer um de nós deve ter discernimento suficiente para não o fazer, muito mais tem de ser exigido aos que nos representam, às figuras públicas, que só o são porque todos contribuímos para que o fossem, e aos que ocupam cargos de chefia em empresas pagas pelo Estado, Estado esse de Direito Democrático!

Esta reflexão surgiu do estímulo de trabalhar numa zona limite - a da dúvida. Se ninguém é bom juiz em causa própria, todos parecem sê-lo a julgar os outros.

Rui Unas partilhou uma fotografia de uma campanha de CR7 da luta contra o cancro, cujo slogan é: "Ser o melhor do mundo é dizer sim a esta causa". "Ahm... epa... errr...", escreveu Unas. Desta vez Unas não foi feliz, foi inconveniente. Perante as críticas, o próprio decidiu justificar-se. «Não estou a julgar ninguém. Apenas assinalo a ironia do “dizer sim” quando o que está em causa é se alguém disse não». Todos saberão que CR7 foi considerado pelo jornal italiano "La Gazzetta dello Sport" como o jogador mais solidário do mundo. A publicação destaca a ajuda dada pelo português a várias causas sociais. Utilizar a ironia quando se trata de apoiar a luta contra o cancro? Achincalhar violações e cancro é divertido? Não, não é.
Ao que se sabe Kathryn Mayorga, a queixosa, subiu para a suite de CR7, em Las Vegas, voluntariamente. Ora, este pormenor poderá não ter qualquer relevância quando pensamos que diariamente recebemos convidados nas nossas casas. Ainda assim, as pessoas que amavelmente convidamos para nos visitarem, o que já implicará algum grau de intimidade, poderão sempre, se assim o desejarem, declinar o convite. Todavia, um não deverá ser sempre entendido como uma negação. Mas quando, por algum motivo, assim não for, existirá sempre a punição e não a compensação.

O que realmente se passou na suite de CR7, em Las Vegas, só eles o saberão. Atendendo ao que é público, mas que poderá não corresponder totalmente ao que é real, se Mayorga quisesse realmente punir Ronaldo pela alegada violação, então deveria ter mantido a queixa inicial e recusado a indemnização. Vendeu a sua honra ofendida por 325 mil euros. Não o deveria ter feito. Deveria, isso sim, puni-lo. Portanto, deveria ter seguido com a queixa para que este fosse julgado.

Não conheço Kathryn Mayorga, portanto não posso tecer qualquer elogio ou censura a seu respeito. Não mudo de ideias quanto ao inquestionável papel desportivo que CR7 teve e tem nacional e internacionalmente. Ei incumbit probatio, qui dicit, non qui negat

Sabia que a obesidade é uma das maiores fontes de lucro  das empresas alimentares e farmacêuticas e que os padrões utilizados para se considerar obeso foram revistos por forma a abranger mais população?


Sabia que ao serem alterados os parâmetros do colesterol que nos consideram “em risco”, o número de pessoas medicadas nos EUA passou de 13 milhões para 36 milhões?

Sabia que entre 2001 e 2004, quando começou a ser prescrito o medicamento para a hiperatividade, o número de pessoas diagnosticadas aumentou 800%?

Sabia que apenas quatro empresas dominam 90% da produção mundial de trigo e que as mesmas controlam o preço mundial do pão?

Sabia que os cartéis de droga e o crime organizado foram o único capital de investimento disponível para alguns bancos à beira do colapso?

Sabia que cada vez mais pessoas são diagnosticadas com doenças mentais, apenas porque os critérios do manual DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) são muito abrangentes? O resultado são muitas mais pessoas a serem medicadas. O próprio médico que organizou o manual reconhece o seu erro, admitindo que se “criou uma epidemia de diagnósticos de autismo, TDAH e depressão”.

Mais angustiante ainda é perceber qual é a terceira maior causa de morte nos EUA? Muitos responderiam cancro, diabetes, doenças cardíacas. Segundo o jornal da Associação Médica Americana são os tratamentos médicos receitados. O que é que isto significa? Objetivamente, que vamos a um médico e morremos por causa do tratamento. De acordo com o Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos, 15 mil pacientes do Serviço de Saúde são mortos por mês por causa dos tratamentos médicos. 15 mil pacientes.

Estas são algumas das principais conclusões de investigações levadas a cabo por Jacques Peretti, um jornalista de investigação da BBC, The Guardian, Wired e Huffington Post e realizador premiado de alguns dos mais controversos documentários.

Mas, que lóbis são estes que estão a mudar o mundo, e não apenas uma América que votou em Trump? Por cá, o lóbi também existe, talvez em menor escala. Faz-se todos os dias. Na banca, cada vez que um grande projeto é aprovado, quando uma cidade é escolhida para ser capital de qualquer coisa, um decreto-lei é regulamentado, um novo assessor é nomeado, uma prospeção de petróleo é encomendada, cada vez que um governo ou executivo tomam posse e assim sucessiva, sucessivamente. Marcas aparentemente indestrutíveis, que sustentam a economia, colapsam de um dia para o outro.

Há deliberações políticas em que são ouvidas várias entidades. Contra e a favor. Mas, este processo, chamado de democracia, nada mais é do que gestão de interesses. Ou dito de outra forma, lóbi, tráfico de influências, esta última designação tende a ser evitada, mas é posta em prática diariamente.

Num outro extremo temos o capítulo justiça, que não deveria ceder a lóbis, já que em Portugal o lóbi não é legal, mas também não é ilegal, todavia existe. É uma espécie de pasta “sem rei nem roque”, expressão que denota uma posição periclitante, em linguagem corrente.

Depois existem os académicos de peso, que conferem credibilidade à lei e do nada surge um conjunto de sintomas que ninguém conhecia antes. Sintomas estes que poderão ser políticos, financeiros, físicos e psicológicos. E eis que mais uma vez triunfa o Lobismo, que com a sua pressão, exercida geralmente por um grupo organizado, atinge determinados objetivos ou defende perseverantes interesses.

Que sociedade é esta que controla os medicamentos que tomamos, o que fazemos, comemos, compramos, vestimos, lemos, e que condiciona a maneira como pensamos?

Neste pequeno reino, o esforço e a competência deixaram de ser suficientes, qualquer “chico esperto” é um empreendedor, sem perspetivas os empregos deixaram de ser aliciantes, vivemos acorrentados numa sociedade que nos impõem regras e estereótipos, as velhas certezas mais não são do que meras inquietações.

Deveremos preparar-nos para a mudança? Este turbilhão acontecerá por acaso? A forma como percecionamos o mundo será real?

Na sociedade existirá sempre alguém com uma ideia brilhante: inventar um problema para vender a solução. As ideias são como as peças de xadrez que se movem para a frente. Xeque-mate!

«O Deus das pequenas coisas» é a história de três gerações de uma família da região de Kerala, no sul da Índia, que se dispersa por todo o mundo e se reencontra na sua terra natal.


Tal como as nossas vidas, uma história feita de muitas histórias. A história dos gémeos Estha e Rahel, nascidos em 1962, por entre notícias de uma guerra perdida. A da sua mãe Ammu, que ama de noite o homem que os filhos amam de dia, e de Velutha, o intocável deus da perda e das pequenas coisas. A da avó, a do tio, a da filha, a da tia-avó e de outras pequenas histórias de uma família que vive numa época conturbada, num país cuja essência parece eterna. Um país, que poderia ser Portugal, e uma época que em tudo poderia ser intemporal. Onde só as pequenas coisas são ditas e as grandes coisas permanecem por dizer, tal como em qualquer sociedade. Assim começa “O Deus das Pequenas Coisas”, primeiro romance da escritora indiana Arundhati Roy, que nasceu em Kerala, Índia, em 1961. Publicado em 1997, é o seu primeiro romance e recebeu o Booker Prize do mesmo ano.

Mas quem é esse «Deus das Pequenas Coisas» e porque resolvi falar dele?

Serão sempre as pequenas coisas que nos magoam. Nunca seremos imunes às injustiças, porque somente aqueles que têm o centro do mundo dentro de si conseguem alhear-se da realidade. Belo e comovente, «O Deus das Pequenas Coisas» é a história de três gerações de uma família que poderia ser a nossa. Tal como numa família qualquer, existirá sempre um momento em que questionamos toda a nossa existência e em que alguns fantasmas adormecidos regressam à nossa casa.

Como explica a própria escritora “o deus das pequenas coisas é a inversão de Deus. Deus é uma coisa grande e está sempre a controlar. O deus das pequenas coisas pode ser a forma como as crianças veem a vida dos insetos, dos peixes ou das estrelas - é um não-aceitar do que pensamos ser as fronteiras dos adultos”.

Não gosto de periocidades para escrever, gosto de fazê-lo sem pressas, pelo simples prazer de refletir sobre a vida e sobre as pessoas. Mas nunca me afasto da escrita. Pelo contrário, aproveito as palavras para as dedicar às minhas lutas internas, a causas em que sempre acreditei e para, através delas, dar voz às pequenas causas – ou dito de outra forma “às pequenas coisas”.

Na obra mencionada “tudo começou realmente na época em que as leis do Amor foram feitas. As leis que estipulavam quem devia ser amado, e como. E quanto." Mas que leis seriam estas? Quem terá doseado e distribuído o Amor? Terá sido o deus das pequenas coisas ou o Deus dos grandes feitos? Não importa a resposta, que embora pudesse ser óbvia, não menos óbvio seria o quão desequilibradas terão sido as dosagens e a sua distribuição. Mais complexo ainda: como se é amado? Existirá uma forma ou várias formas de o ser?

A importância das coisas não está no seu tamanho, mas no que representam no nosso contexto. Deus (maiúsculo) ou deus (minúsculo), tanto me faz. Deste ponto de vista, nada é demasiado pequeno ou excessivamente grande. Coisas ínfimas tornam-se enormes quando contextualizadas; e coisas grandes, insignificantes, quando relativizadas. É que a importância das coisas está na função que desempenham na nossa relação com os outros. Sob este conjetura, as coisas menores serão, quase sempre, as mais importantes.

Tal como na obra de Arundhati Roy, as pequenas coisas poderão passar “por amores proibidos ou desejos reprimidos”.

Agosto já terminou e o cheiro dos frutos maduros também. Os dias parecem mingar, como se caminhassem ao encontro das coisas pequenas e, tal como uma nuvem que se dissipa, o natal não tardará.

Na vida, tal como na obra, uma lição sobressai: quem não é fiel nas pequenas coisas, jamais o será nas grandes. Entre as coisas pequenas e as grandes, já dizia Oscar Wilde “prefiro as coisas simples, porque elas são o último refúgio de um espírito complexo”. Quanto ao Deus ou deus, prefiro o meu, que será sempre uma mistura de ambos. Existem histórias que começam pelo fim…

«O Deus das Pequenas Coisas»

by on setembro 08, 2018
«O Deus das pequenas coisas» é a história de três gerações de uma família da região de Kerala, no sul da Índia, que se dispersa por todo o m...

Ao longo dos séculos, vários estudos foram desenvolvidos a fim de poder provar a existência ou não da «alma» humana. Este assunto, assim como outras vertentes sobrenaturais, fazem parte de algumas temáticas que o homem sempre tentou compreender.


Em 1907, um investigador americano chamado Duncan MacDougall tentou provar que a «alma» existe e que tem peso. Observou seis pessoas, em fase terminal, antes e depois de morrerem, e constatou que perdiam peso assim que faziam a "passagem”. Aliás, referiu mesmo que a «alma» teria o peso exato de 21 gramas.

O meu objetivo não é perceber nem contestar se a «alma» tem ou não propriedades materiais, como o peso ou um campo eletromagnético.

Para mim, a alma é a energia; é existência para além da matéria e dos cinco sentidos. Não pode ser vista, é a nossa identidade interior. Por exemplo, a alma da música é a visão do compositor que deu vida às notas tocadas numa composição musical.

Numa pequena pesquisa que realizei sobre o que é a «alma» (conceito que também aparece referenciado como «espírito» ou «aura»), alguns estudos também especulavam que a partida da alma depende do carácter da pessoa: as almas mais «pesadas» demoram mais tempo a abandonar o corpo.

Concordo com a designação de «almas pesadas». Algumas pessoas simplesmente desamam tão profundamente, inquietam-se tanto e dão tanto delas a preocuparem-se com a vida dos outros, que não lhes sobra nada para si mesmas. Simplesmente não têm uma vida.

Independentemente da verdade científica, a «alma» pesada existe. É visível naquele tipo de pessoas que se alimenta de reivindicações, discussões, azedume e indisposição para com a vida. Esse peso, que poderá ou não influenciar o peso da «alma», enclausura a capacidade de viver em harmonia, de estar “de bem com a vida”, porque o que importa são apenas as suas dores, o seu “umbigo” e a sua pequena história sem enredo, sem protagonista, onde a personagem principal é sempre o vilão.

Gosto de relacionar-me com as pessoas, mas sem ter espírito de liderança, sempre com a certeza de que não ocultarei a minha opinião só porque poderá divergir das restantes. Prefiro que a minha conduta se coadune com os meus princípios que, por sua vez, serão reveladores do meu carácter.

No nosso dia-a-dia convivemos com várias pessoas e, neste convívio diário, vamos estreitando relações com quem temos mais afinidade. Mas, é quase inevitável, que nas nossas ligações existam os que estão sempre “de mal com a vida”.

O ser humano representa um emissor de energia, que produz um campo energético à sua volta. Independentemente do conceito, que poderá tratar-se de um fluido ou de uma essência subtil, algo emana para os que connosco convivem.

Por causa deste magnetismo, sentimo-nos atraídos, criamos empatia ou não por certas pessoas, algumas mais do que com outras; em alguns casos, basta apenas um encontro para nos envolvermos numa energia contagiante, o que comummente nos faz pensar que já nos conhecemos de “outras vidas”. Depois existe o contrário, pessoas que facilmente nos provocam uma desagradável sensação de cansaço, como se absorvessem a nossa energia. Este tipo de sensação deverá refletir sempre a maior expressão de plenitude, transformando a falta de empatia, em respeito pelo outro, independentemente de qualquer fator.

Afinal, o que fica da nossa vida são as relações que conquistamos e as conversas que tivemos. No limite, quando alguém contar a nossa história, as narrativas que importam são as lembranças de gratidão e os valores que transmitimos.

Nunca devemos esquecer que exercemos a nossa arrogância quando exigimos de alguém aquilo que não exigimos de nós mesmos.


O peso da alma

by on julho 20, 2018
Ao longo dos séculos, vários estudos foram desenvolvidos a fim de poder provar a existência ou não da «alma» humana. Este assunto, assim c...
É conhecida como uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Platão, na Alegoria da Caverna, considera a ignorância como o mundo das sombras, só superável por aqueles que consigam libertar-se da sua prisão, para poder, ao admirar a luz exterior, compreender a luz do sol e sentir o seu calor, mesmo que isso os deixe quase cegos, pela falta de hábito. Ora, isto só se tornará exequível pela familiaridade de nosso espírito com a luz.


Através desta metáfora é possível refletirmos sobre como é que, através do conhecimento, podemos alcançar a existência do mundo sensível e do mundo inteligível?

O mito fala sobre prisioneiros que, desde o nascimento, vivem acorrentados numa caverna e passam o tempo a olhar para uma parede iluminada pela luz de uma fogueira. Diariamente, quantos de nós não continuamos a usar correntes, contemplando sombras que já não existem, mas que condicionam as nossas verdades?

Nesta parede da caverna são projetadas sombras, que representam pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenários e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ocupam o seu tempo a dar nomes às sombras, analisando-as e julgando-as reais. Também nós, prisioneiros de nós próprios e dos cânones que nos subjugam, ajuizamos sobre o que aparentemente julgamos conhecer, sem nos libertarmos dos condicionalismos que evocam uma visão distorcida da realidade.

Vamos imaginar que somos forçados a sair da caverna, partindo as correntes, para poder explorar o mundo exterior. Ao entrar em contacto com a realidade percebemos que passámos a vida toda a analisar e a julgar apenas imagens projetadas. Como reagiríamos? Existem duas respostas possíveis: alguns voltariam para a caverna para transmitir aos restantes prisioneiros todo o conhecimento adquirido no mundo exterior. Outros, porém, com receio de serem ridicularizados ao contar tudo o que viram e sentiram, jamais regressariam.

Assim é na vida real. Haverá sempre os que questionam, os que interrogam, e os que só conseguem acreditar na realidade refletida na parede iluminada da caverna, ou porque a sua cegueira não lhes permite ver mais além, ou porque a sua personalidade não está bem estruturada, logo é maleável. Chegados aqui, deparamo-nos com um novo conceito. Integridade. O que significa?

De acordo com algumas definições, integridade vem do latim integritate e representa a qualidade de alguém que é íntegro, fundamentada pela retidão e pela imparcialidade, portanto uma virtude fundamental e ao mesmo tempo muito ignorada nos nossos dias. Dito de outra forma: de uma maneira geral, na sociedade, ou seja nas nossas vidas, existe um enorme abismo entre a teoria e a prática. Integridade é uma virtude desafiadora, difícil de ser praticada numa sociedade onde o que aparente ser, tal como na Alegoria da Caverna, adquire ainda uma importância maior do que aquilo que realmente é. Na prática, a integridade consolida-se unicamente quando os nossos valores estão em harmonia com a nossa conduta. Depende de coisas simples que não estão subordinadas a qualquer credo, origem, cor ou nível de educação. Requer a prática de princípios universais como respeito, liberdade, humildade, igualdade e amor. A integridade depende, muitas vezes, do óbvio.

Na verdadeira Alegoria da Caverna o escravo volta para junto dos seus antigos amigos e conta-lhes que estão completamente enganados, pois as sombras são uma visão distorcida da realidade. Os prisioneiros riem-se, pois não acreditam, e se ele tentar soltá-los será morto porque pensam que está a gozá-los.

No mito, os prisioneiros somos nós que vislumbramos e acreditamos apenas nas imagens que nos rodeiam, nos conceitos e nas informações que recebemos. Não procuramos a essência das pessoas, dos valores, mas preocupamo-nos com a futilidade e com o mundo das aparências, tal como os prisioneiros. Platão, com esta alegoria, pretendeu mostrar as diversas formas do ser humano apreender a realidade e o esforço, muitas vezes requerido, para “lutar” pela verdade.

O que de mais perturbante pode haver é admitir que estamos errados, mas conseguir admiti-lo é um reflexo de sabedoria. Ser verdadeiro constitui um dos maiores desafios da vida porque exige de nós uma atenção permanente. Ao permanecermos disponíveis podemos libertar-nos da escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade. E já dizia Platão que “a parte que ignoramos é muito maior do que tudo quanto sabemos”.


Alegoria da Caverna

by on maio 25, 2018
É conhecida como uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Platão, na Alegoria da Caverna , considera a ignorância como ...
Fazes-me falta. Já tenho saudades tuas. Cansa-me esta falta de ti e passaram apenas alguns dias desde que te segurei a mão pela última vez. “Estou aqui” disse-te ao ouvido, repetidamente, "estou aqui". Sei que te consegui acalmar e estou ciente de que percebeste o sentido desta frase, inacabada e interrompida pelos soluços e pela vontade de chorar. Cansa-me esta falta de ti, lembra-me a tua presença forte, sem muitas palavras, mas firme como se nada te derrubasse. A custo, mantinhas-te firme! Conversas simples, que se foram desvanecendo aos poucos, como uma luz ténue que lentamente vai perdendo o seu fulgor. Cansa-me saber-te longe do alcance de qualquer abraço e de um passeio de fim de tarde. A falta de ti entedia-me e faz-me pensar nas quantas coisas que ficaram por dizer.


Fazes-me falta. Faz-me falta a tua presença, o estar e falar contigo, ouvir a tua voz.

Nunca gostei de partidas. Até as mais simples, para mim são sempre difíceis. Ainda mais quando se trata de alguém que faz parte de nós e que está apenas esperando um último abraço para seguir por um caminho sem fim.

Não acredito que haja um tempo certo para tudo, até mesmo para partidas.

Gostava de acreditar que tudo permanece até quando deve permanecer. Fica o tempo que tem que ficar. Assim, simples e natural. Mas, tudo se altera quando esta viagem sem regresso é a tua viagem!

Deste-me a vida para ensinar, para aprender, para crescer, para amar, e um presente assim não se devolve. Foste o primeiro super-herói da minha vida e grandes heróis deixam sempre grandes saudades.

Por mais que seja difícil dizer adeus, às vezes é necessário. Aparentemente, entendo o ciclo, mas sinto o contrário. Existe um momento em que é preciso fazer escolhas. Apesar de a tua partida ter sido uma escolha demasiado dura, ficaste em paz. E nós também temos de conseguir alcançar essa serenidade porque sabemos que já nada melhor podia ser feito.

O amor de um pai nunca morre, transmite-se. E o de um pai por um filho é eterno. Acredito que, às vezes, ver alguém partir não é uma separação, mas apenas um aviso de Deus de que coisas melhores poderão estar para vir. Há pessoas que simplesmente nunca saem da nossa vida.

Sou-te muito grata. Pude conviver com um homem honesto, íntegro, que me ensinou a ser tudo o que sou e que se despediu de mim falando a sua linguagem de amor; pedindo para que fosse sempre eu mesma, sem querer ser melhor do que ninguém. Nunca precisaste de palavras para o transmitir, bastaram sempre os teus gestos.

Humilde, educado, trabalhador, homem do campo, de poucas ou longas falas quando necessário, duro, como a  vida, afetivo, de bom coração. Partiu sem rancores, mesmo para com aqueles que lhos pudessem merecer. Assim foi o meu pai.

Hoje tenho recordações suas que já nem me lembrava que existiam na minha memória. Mas quando nada podemos fazer para mudar o decurso da vida, resta-nos honrar os valores que nos foram deixados por aqueles que amaremos eternamente.

Se cheguei até aqui foi porque sempre soube escutar o que muitas vezes tinhas para dizer, mesmo quando discordava (e foram tantas as vezes)! Tenho saudades, pai, saudades tuas!

Tudo termina. Deus silenciou-te com dignidade! Deixaste no teu último silêncio, mais do que palavras, uma lição de vida!

Hei de continuar a amar-te na tranquila e serena saudade, sabedora de que nos encontraremos outra vez. Um pai nunca morre.

Obrigada Pai! Que assim seja!

Um Pai nunca morre

by on maio 14, 2018
Fazes-me falta. Já tenho saudades tuas. Cansa-me esta falta de ti e passaram apenas alguns dias desde que te segurei a mão pela última vez....
Não que eu seja irónica, pois tenho alguma dificuldade em perceber que a ironia seja utilizada como uma forma de demonstrar inteligência. Numa definição muito simples, “ironia” é uma figura de linguagem através da qual se expressa o oposto daquilo que se diz. Na verdade, quando sou irónica, tento sê-lo de forma bem-humorada. 


Já o “sarcasmo” é o uso ofensivo da ironia, com intuito de escárnio e troça. Este estilo de conversação, muitas vezes maldoso e mal-intencionado, tende a tornar os ambientes tóxicos e nada afáveis. Alguns consideram que é uma forma de chamar a atenção para um determinado problema, com algum humor à mistura. A leitura não deve ser muito rigorosa nem objetiva, mas deve ser entendida como uma forma de questionar algo.

Existem bons e maus textos. Apenas isso: bons ou maus. O artigo de opinião ‘Oncolamúrias’, publicado por José Diogo Quintela, é um bom exemplo de um péssimo texto. O humorista e colunista do Correio da Manhã decidiu centrar-se na questão da falta de condições no serviço de pediatria do Hospital São João, no Porto, que motivou várias queixas de pais de crianças com cancro, fazendo uma analogia com a situação na Síria e o défice nacional. Fê-lo recorrendo à ironia, dizem alguns, que carateriza os textos que publica na sua coluna de opinião ‘Pífios epitáfios’. 

Observe-se o que há de bom neste texto. Não o desconsideremos só porque algumas frases soam a sarcásticas. Tentemos ignorar a ironia trivial. Lembremo-nos de que a identificação pode ser difícil, e de que o autor pode estar a censurar algo, criticar ou denunciar, utilizando a ironia. Esgotadas todas estas pressuposições, sejamos honestos: este texto é uma MERDA! José Diogo Quintela escreve que “é preciso muita vontade de atacar o Governo, para os pais terem a lata de reclamarem das condições em que os filhos fazem quimioterapia, justamente na mesma semana em que as crianças sírias levaram os seus químicos sem se queixarem da assoalhada em que estão”. Talvez as minhas dores não sejam maiores do que as suas, nem sejam as maiores do mundo. Hipócritas são todos aqueles que tomam como suas as dores dos outros sem as terem sofrido. Apesar dos apelos para uma ação unida e concertada para ajudar a acabar com a escalada da violência na Síria, o Conselho de Segurança da ONU não conseguiu aprovar uma resolução que teria ameaçado com sanções contra Damasco, devido aos votos negativos dos membros permanentes - Rússia e China. Se nem o Conselho de Segurança da ONU conseguiu, o que poderemos nós fazer? A comparação é tão estúpida que não consigo identificar nem ironia, nem sarcasmo, apenas imbecilidade. 

Serei sempre pela liberdade de expressão, mas sejamos cuidadosos porque "a nossa liberdade acaba quando começa a dos outros". 

“No S. João, ao menos, têm um corredor. Já viram Ghouta? Nem paredes há! Trata-se de paizinhos que se lamuriam das condições de tratamento dos filhos, mas provavelmente rejubilam com o défice de 0,9%”. Concluindo: “E ainda têm o desplante de se queixarem das correntes de ar. A criança tem cancro e é uma constipaçãozinha que lhe vai fazer mal? Picuinhas”. 

Na vida existem corredores pelos quais nunca gostaríamos de ter que passar. Albert Einstein referiu sabiamente que “duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana”. Em relação ao universo, confessou não ter a certeza absoluta, já dúvidas não lhe terão restado quanto à estupidez humana. Picuinhas eu?

Pífio fedorento

by on abril 13, 2018
Não que eu seja irónica, pois tenho alguma dificuldade em perceber que a ironia seja utilizada como uma forma de demonstrar inteligência. N...


“Aproveita que a vida é curta!” Não são raras as vezes em que utilizamos a expressão, mas apenas da “boca para fora” porque continuamos a desperdiçá-la com coisas insignificantes.


vida é tão efémera que é imperioso que cada instante seja vivido intensamente.


Em Botânica, o termo efemeridade é utilizado para designar as flores que murcham no mesmo dia em que desabrocham. Também pode referir-se às plantas cujo ciclo de vida é muito curto e a algumas que só florescem em anos de chuva intensa.
Os insetos do género Ephemera, que pertence à família dos Efemerídeos, possuem esse nome porque vivem apenas escassas horas. Ainda relacionados com a chuva intensa ou com o degelo estão os cursos de água efémeros, que formam lagos, riachos ou rios que duram apenas alguns dias.
Em Filosofia é considerado efémero tudo o que não é fundamental, tudo o que se mostra pouco relevante.
Na Terra, há sementes que nunca brotam e há flores que vivem a vida inteira até que, pétala por pétala, se entregam ao vento. É assim a vida, assim somos nós. Descuramos. Amamos de menos. Esquecemos de mais. Cuidamos pouco, de nós e dos outros.

Se conseguíssemos ter consciência do quanto a nossa vida é efémera, talvez não existissem despedidas incompletas ou momentos inacabados.
Somos demasiados pequenos, agarramo-nos aos pormenores, perdemo-nos no supérfluo e, de repente, ficamos sem tempo. Calamo-nos quando deveríamos falar; falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio. Não damos um abraço porque temos vergonha dessa aproximação. Não damos um beijo porque julgamos que é um excesso. Não dizemos o quanto gostamos porque achamos que o outro sabe automaticamente o que sentimos.

A noite passa e o dia chega, o sol nasce e adormece e nós continuamos fechados em nós. Reclamamos do que dispomos e ansiamos o que não temos. Exigimos. Dos outros. Da vida.

E o tempo passa...

Cruzamo-nos com a vida, mas não vivemos. Sobrevivemos. Até que, inesperadamente, algo nos impele contra a realidade e eis que, bem firmes, mas meios entorpecidos, acordamos e olhamos para trás. Então e agora? Amigos e família partem para uma viagem sem fim, não houve tempo…

A vida é um conceito muito amplo que admite diversas definições. Agora, hoje, ainda é tempo de reconstruir, de dizer uma palavra carinhosa, de agradecer pelo que temos.

Ainda é tempo de apreciar as flores, que nunca foram observadas, mas que estão sempre ao nosso redor. Ainda é tempo de agradecer pela vida, que mesmo efémera está dentro de nós.

vida é um conceito com numerosas faces.

Esqueçamos por instantes as palavras, deixemos que a nossa vida fale por nós!

Ampulheta

by on março 29, 2018
“Aproveita que a vida é curta!” Não são raras as vezes em que utilizamos a expressão, mas apenas da “boca para fora” porque continuamos a...

Ainda no rescaldo do Carnaval, vou falar-vos de “máscaras”. A palavra teve, provavelmente, origem do Italiano “maschera”, que veio do Latim medieval “mascus” ou “masca”, quer queria dizer "fantasma", ou do árabe “maskharah”, que significava "palhaço", "homem disfarçado". Inicialmente, designava na tradição italiana uma criação fantástica, podendo estar ligada a manifestações diabólicas, que encerravam em si algo de misterioso. 



Durante séculos foi utilizada em rituais satíricos e sagrados. Foi usada pelos índios nas guerras para lhes dar um aspeto feroz e intimidar o inimigo. Em África, na Guiné, foi usada por certos povos como elemento decorativo, simbolizando deuses e génios.

Nos teatros gregos foram experimentadas pelos atores em palco com a função de ressuscitar os homens de outrora. Também os egípcios ficaram na história pelas máscaras funerárias de Tutankamon e Agamémnon, acreditando que a sua colocação na face dos mortos ajudava na passagem para a vida eterna. Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos.

Mas, foi no século XVIII, que em Veneza se tornou um hábito regular homens e crianças da cidade usarem máscaras que cobriam somente a parte dos olhos e nariz. Com o aumento da criminalidade praticada, instituiu-se a lei de Dodge que proibia o seu uso por ser extremamente difícil prender os assassinos que matavam nas vielas.

As máscaras baseiam-se na necessidade do homem se embelezar e de se transformar, extravasando impulsos reprimidos, libertando-os das normas sociais.

No mundo moderno, numa alusão clara ao disfarce, as empresas fabricam-nas para o Carnaval consoante as tendências, inspirando-se em séries e filmes de sucesso. Numa explosão de alegria, as pessoas, podem ser alguém como: fada, bruxa, rei, rainha, pirata, cigana, polícia, enfermeiro…

A máscara é sinal de divertimento, mas não só. Existe um sentido figurado, onde representa disfarce, dissimulação, falsa aparência. Nesta perspetiva, é sempre mais complexa. O Carnaval, porém, não se limita aos quatro dias de divertimento. No dia-a-dia também vivemos o "carnaval individual", quando nos deparamos com máscaras e fantasias diversas. Quem nunca viu ninguém “mascarar-se” de bom colega, bom amigo ou funcionário feliz? Quem nunca exibiu a máscara de super mãe/pai, super mulher/homem com o coração inquieto? Quem nunca escondeu a expressão de desalento perante uma deceção? Quem nunca engoliu as lágrimas ao ser vítima de uma injustiça?

Depois, ainda temos de enfrentar o "carnaval coletivo", as muitas máscaras que nos rodeiam. Qualquer máscara, qualquer disfarce não passa disso. Despir essas fantasias e ser-se exatamente o que se é torna-se difícil, quase impossível, numa sociedade maniatada!

Descobrir o que está por detrás de cada máscara é um exercício de muita perceção e sensibilidade.  Por isso, na vida, existe sempre uma quarta-feira de cinzas, dia de tirar as máscaras pessoais ou alheias. Quarta-feira de cinzas, dia a seguir ao Carnaval, é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental (Católico). Mas, as cinzas ultrapassam (ou deveriam ultrapassar) qualquer religião, devem ser entendidas como um símbolo para a reflexão sobre a integridade, a mudança de vida, recordando-nos a passagem transitória e efémera, e a fragilidade da vida humana.

As máscaras continuarão a existir, mas por contraste, não façamos delas um ideal de vida!

A máscara

by on fevereiro 15, 2018
Ainda no rescaldo do Carnaval, vou falar-vos de “máscaras”.  A palavra teve, provavelmente, origem do Italiano “maschera”, que veio do Lat...