Há um suicídio a cada 40 segundos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde ocorrem cerca de 800 mil suicídios por ano, em todo o mundo. Porquê? Questionamos. O suicídio parece não ter explicações objetivas. Agride, aterroriza e silencia. O ser humano é feito de sombras que o perseguem. 


Em algum momento da vida, todos já equacionámos a morte. Se não desejámos morrer, ao menos refletimos sobre ela para escapar ao sofrimento ou para exigir atenção. Dentro da nossa coerência, o suicídio surge como um ato de loucura, uma opção contranatura, em que a vítima e o agressor são a mesma pessoa. Por trás deste ato está um mundo indecifrável que não cabe em definições complexas, muito menos elementares. Há um interromper do ciclo natural da vida e uma luta incessante de “porquês” para os que cá ficam.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 90% dos casos de suicídio concretizados estão relacionados com transtornos mentais, depressão e abuso de substâncias psicoativas. 

O apoio da família e dos amigos é essencial, mas o suicídio é quase sempre um grito mudo, uma dor silenciosa, um caminho sem sentido cuja prevenção e o controlo não são inteligíveis. 

O suicídio é visto como uma forma de lidar com o sofrimento, uma saída para aliviar a dor. O desespero torna-se insuportável. A cada dia, o sofrimento fica mais violento e viver torna-se angustiante. O suicida não sabe se quer morrer ou viver, deseja apenas fugir da dor, não quer acabar com a vida, mas sim com o sofrimento. 

Cometer suicídio é destruir uma ligação, que vai deixar um espaço vazio, onde não existem respostas, muitos menos coragem ou cobardia. 

Por vezes a vida parece curta, mas o caminho pode ser longo. Em tempos de intolerância, em que quase tudo serve de argumento e as possibilidades de diálogo permitem quebrar limites e ultrapassar barreiras, são importantes momentos de introspeção para perceber quem somos, de onde vimos e para onde vamos. Não há espaço para o lirismo contemplativo, a decisão de acabar com a própria vida não é individual, surge sempre de uma motivação, de um vazio coletivo. O suicídio pode ser um ato privado, mas não representa somente uma violência contra o próprio, mas também contra os demais. 

Saber escutar é uma força poderosa nas relações humanas. Muitas vezes não necessitamos de encontrar soluções para os problemas dos outros, apenas aprender a ouvir. Quando sabemos escutar, as pessoas conversam e refletem sobre seus conflitos e emoções, encontrando as respostas e as soluções dentro de si. 

No dia 10 de setembro assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Se é verdade que o sofrimento existe, também é certo que haverá sempre um céu estrelado, uma lua crescente, um sol a cada novo dia para ser contemplado. A vida está sempre em transformação. O melhor ainda está para vir. Tudo chega com o tempo. 

“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”. (Fernando Pessoa)