Todos somos um pequeno instante no universo. Nascemos, crescemos e morremos. É certo que para podermos falar de identidade temos que conhecer a nossa essência, que passa pelas nossas raízes e pelo sentimento de pertença que nos liga ao lugar onde nascemos e crescemos. Uma terra que ansiamos ou precisamos para aquecer o espírito, para que a nossa vida faça sentido, a fim de descobrirmos quem somos.
A nossa visão sobre o mundo é o que nos torna peculiares. Quem transmite generosidade, recebe tolerância. A ideia da existência do infinito pode fazer-nos pensar que não somos de lugar nenhum, mas é um conceito irreal, para não dizer efémero.
Existirá um dia, ou talvez já tenha existido, em que finalmente descobrimos o nosso lugar no mundo. Descobertas assim levam tempo, é verdade. Mas quando resolvemos abraçar as dúvidas e as certezas, encontramos uma sensação maior e descobrimos o que significa pertencer.
Todas escolhas vêm acompanhadas de uma perda e isso origina o medo. Não sou a exceção à regra. Quando há 25 anos deixei para trás o Reino Maravilhoso, tão bem retratado por Miguel Torga, com ele também ficou o meu falso conforto e um grande oceano megalítico. Senti que o processo de mudança pode ser muito mais importante do que a mudança em si, já que envolve uma revisão dos nossos valores e do atual momento de vida. «Embora muitas pessoas digam que, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite.» E mais uma vez Miguel Torga tinha razão. Para uma transmontana, agarrada às raízes, «o remédio é partir discretamente, sem palavras, sem lágrimas, sem gestos. De que servem lamentos e protestos, contra o destino?”
Senti muita falta da família e dos amigos que ficaram, mas toda a insegurança e saudade foram amenizadas ao sentir a brisa do mar no rosto! Depois, existia a Ria Formosa, as ilhas e os seus encantos. A sua formosura parecia estar adormecida, como se do paraíso se tratasse. Fenómeno estranho, mas surpreendente, e rapidamente fui absorvida por este lugar, como se sempre estivesse estado à minha espera.
A minha rua tinha uma paisagem encantadora, mas não tinha o mar ao fundo, tal como no poema de António da Encarnação Pereira. Nunca passava um navio. Aqui passam navios de todo e para todo o mundo. Só um poeta algarvio conseguiria escrever assim porque tinha na alma a paz e o enamoramento que só o Algarve possui. Senti-me enamorada desde o primeiro encontro, selando esse compromisso com dois filhos algarvios e amizades para a vida. O Algarve é naturalmente sublime.
“És de Faro, és Farense”. Redundante à primeira vista, não o será se nos cingirmos à sua génese futebolística e ao histórico Farense. Honrar a terra que nos acolhe é sempre um sinal de respeito. Não sou de Faro, na minha génese, sou transmontana pelo sangue, mas farense (e Farense) de coração.
“És de Faro, és Farense.”
“És de Faro, és Farense”
by
Laura Alves
on
julho 28, 2019
Todos somos um pequeno instante no universo. Nascemos, crescemos e morremos. É certo que para podermos falar de identidade temos que conhec...