“A mãe perfeita não chora, não desespera, não perde a cabeça e, acima de tudo, não existe”. A frase, de autor desconhecido, faz-nos refletir sobre se a mãe perfeita existirá.



Quando penso, por alguns segundos, no conceito de mãe, lembro-me imediatamente da minha. Esta visão faz-me refletir sobre as mulheres que, tal como a minha mãe, foram educadas para não terem outras ambições. Boas esposas, leia-se submissas, educadoras, que se dedicavam a cuidar da família, organizar o lar, costurar, cozinhar, limpar e ainda ajudar nas lides do campo.

Os tempos mudaram. Ser boa mãe já não basta ter filhos educados. A sociedade mudou e com ela as exigências tornaram-se reivindicações. Hoje em dia ser mulher implica cuidar da casa, da alimentação, dos filhos, da escola, do trabalho, da saúde… E ainda encontrar tempo para estar bem informada, vestir como a moda exige, cuidar do corpo… 

Um estudo recente concluiu que os exames nacionais acentuam as desigualdades sociais. São os estudantes das escolas mais bem posicionadas nos rankings que mais procuram centros de explicações. O mesmo estudo explica ainda que em outros países não acontece o mesmo porque as famílias acreditam na qualidade do ensino. Ser mãe, hoje em dia, equivale também a voltar a fazer o 1º 2ºe 3º ciclos ou, quando o poder económico assim o exige, a recorrer ao "mercado paralelo" das explicações. Cito novamente a minha mãe e nas suas árduas tarefas, que eram muitas, pelo menos não constavam os meus deveres da escola, nem os da minha irmã. Ambas ingressámos no ensino superior e fizemos exames nacionais, que deveriam continuar a ser entendidos como mais um instrumento, mais um método, para avaliar todos os alunos, bem como os estabelecimentos de ensino que frequentam e os respetivos professores. 

Mas ser mãe cansa! É possível conciliar casamento, maternidade, amizades, trabalho e lazer? Há muitas mães que acreditam ser “péssimas mães” por não cumprir com as suas expectativas ou com as impostas pela sociedade. Qual de nós já não se sentiu, pelo menos uma vez, uma má mãe? Quantas não foram as circunstâncias em que também nos sentimos exaustas, física e mentalmente? Quantas mais não foram as que sentimos a sensação de estar em tudo sem chegar a nada? Porque, no meu conceito, ser mãe é amar incondicionalmente, sem nunca poder falhar. E é neste “nunca” que reside a imperfeição, porque o ser humano não poderá ser mais do que isso: humano. 

O corte, à nascença, do cordão umbilical nunca chega a acontecer. A ligação entre mãe e filho é algo inexplicável! Nos pequenos medos e anseios, nas derrotas, nas frustrações, nas alegrias e tristezas, nós, mães, estamos sempre lá e vivemos tudo a duplicar. São muitas aprendizagens, sentimentos contraditórios, mas verdadeiros, dedicação, ternura, proteção, satisfação, plenitude, realização pessoal, vida, entrega, lealdade, submissão... 

Os pais educam, mas os filhos também reproduzem os seus modelos de conduta. Nunca serei a melhor mãe do mundo, mas com as minhas imperfeições hoje sou, sobretudo, um ser humano melhor! Sou uma mãe impulsiva, afetuosa, intempestiva, mas permissiva. Neste papel, avaliado diariamente por conhecidos e até por desconhecidos somos constantemente postas à prova. Ser mãe é fácil? Nem sempre. Exigente? Quase sempre. 

O que na verdade deve ser valorizado é à qualidade das relações e o vínculo com os nossos filhos. Depois, são os próprios que mediante as adversidades nos ajudam a perceber que realmente vale a pena. 

Falharei em bastantes momentos neste exigente papel, mas são muitas as vezes em que os meus filhos me dizem: “és a melhor mãe do mundo!” E se eles dizem…

Síndrome de mãe

by on janeiro 31, 2018
“A mãe perfeita não chora, não desespera, não perde a cabeça e, acima de tudo, não existe”. A frase, de autor desconhecido, faz-nos refleti...

Gosto de escrever. Não importa sobre o quê. Escrever apenas. Escrever sem regras, por puro prazer. Depois, à medida que vamos crescendo, vai-se manipulando a capacidade natural de criar. As palavras estão no lugar certo, às vezes menos arrumadas, mas estão lá, nem sempre como deveriam estar porque existirá continuamente o sentido crítico. 


A expetativa de como os outros nos vão ler inibe o texto criativo. Escrever é soltar a mente, além de despertar qualidades mimetizadas. É importante cultivar rituais, eles ajudam a desenvolver a criatividade, e a mente usa esta faculdade apenas quando a experiência a obriga a fazê-lo.


Escrever ajuda-me a estabelecer contacto com questões internas e capacidades adormecidas. Tem um certo traço terapêutico e de autoconhecimento, ao mesmo tempo que assenta em características de espontaneidade.

Simples, sem receio de mostrar as emoções. A emoção é uma característica do ser humano, que nos distingue e dá caráter. Se um texto não tiver uma certa dose de emoção, não é verdadeiro, logo não transmite bem a mensagem. Quando escrevemos, fazemo-lo tendo em conta as nossas comoções e experiências. Depois há a utilidade. O desejar de que este texto seja útil para alguém.

Quando entro neste estado de entrega total, as ideias fluem. Ao longo da nossa vida experimentamos sentimentos muito diferentes, mas não basta apenas dar-lhes voz; eles precisam de ser escritos.

Não me importo com o que os outros pensam. Talvez, algumas vezes, já tenha deixado de fazer ou de escrever o que realmente queria com receio do que os outros iriam pensar. Senti que deveria dizer o que eles esperavam de mim, que deveria corresponder às suas expectativas. Depois, concluí que nunca deixarão de existir os que estão sempre dispostos a ver o lado negativo e a questionar o que quer que seja. Então, passei a agir segundo os meus próprios critérios. Na vida só importam aqueles que acreditam em nós, o que todos os outros pensam nunca será verdadeiramente importante. O tempo é suficiente para construir a nossa história e só essa prevalece.

Escrever é um hábito antigo e universal. Os primeiros diários pessoais de que se tem notícia eram chamados livros de cabeceira no Japão do século VIII. Todavia, só nos anos 70 os psicólogos compreenderam que o hábito de escrever sobre experiências individuais poderia ajudar as pessoas a ter uma vida mais saudável e plena. Além de funcionar como uma fuga para outros lugares, a transformação de sentimentos em palavras ajuda a organizar os pensamentos, as prioridades e o processo de amadurecimento pessoal. 

Escrever é uma forma de me comprometer comigo mesma, transformando a conceção em palavras, que podem ser lidas, analisadas, sem controvérsias nem evasões, que muitas vezes acontecem quando se limitam apenas aos pensamentos. 

Não sei exatamente o que me move, mas escrever, para mim, é uma forma de criar laços, é uma necessidade. 

“No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.” José Saramago, La Provincia (1997).


Puro prazer

by on janeiro 10, 2018
Gosto de escrever. Não importa sobre o quê. Escrever apenas. Escrever sem regras, por puro prazer. Depois, à medida que vamos crescendo, v...