“Aproveita que a vida é curta!” Não são raras as vezes
em que utilizamos a expressão, mas apenas da “boca para fora” porque
continuamos a desperdiçá-la com coisas insignificantes.
Em Botânica, o termo efemeridade é
utilizado para designar as flores que murcham no mesmo dia em que
desabrocham. Também pode referir-se às plantas cujo ciclo de vida é muito curto
e a algumas que só florescem em anos de chuva intensa.
Os insetos do género Ephemera,
que pertence à família dos Efemerídeos, possuem esse nome porque vivem apenas escassas
horas. Ainda relacionados com a chuva intensa ou com o degelo estão os cursos
de água efémeros, que formam lagos, riachos ou rios que duram apenas alguns
dias.
Em Filosofia é considerado efémero
tudo o que não é fundamental, tudo o que se mostra pouco relevante.
Na Terra, há sementes que nunca
brotam e há flores que vivem a vida inteira até que, pétala por pétala, se
entregam ao vento. É assim a vida, assim somos nós. Descuramos. Amamos de menos.
Esquecemos de mais. Cuidamos pouco, de nós e dos outros.
Se conseguíssemos ter consciência do quanto a nossa vida é
efémera, talvez não existissem despedidas incompletas ou momentos inacabados.
Somos demasiados pequenos,
agarramo-nos aos pormenores, perdemo-nos no supérfluo e, de repente, ficamos
sem tempo. Calamo-nos quando deveríamos falar; falamos demais quando deveríamos
ficar em silêncio. Não damos um abraço porque temos vergonha dessa aproximação.
Não damos um beijo porque julgamos que é um excesso. Não dizemos o quanto gostamos
porque achamos que o outro sabe automaticamente o que sentimos.
A noite passa e o dia chega, o sol nasce e adormece e nós continuamos fechados em nós. Reclamamos do que dispomos e ansiamos o que não temos. Exigimos. Dos outros. Da vida.
E o tempo passa...
Cruzamo-nos com a vida, mas não vivemos. Sobrevivemos. Até
que, inesperadamente, algo nos impele contra a realidade e eis que, bem firmes,
mas meios entorpecidos, acordamos e olhamos para trás. Então e agora? Amigos e família partem para uma viagem sem fim, não houve tempo…
A vida é um conceito muito amplo que admite diversas
definições. Agora, hoje, ainda é tempo de reconstruir, de dizer uma palavra
carinhosa, de agradecer pelo que temos.
Ainda é tempo de apreciar as flores, que nunca foram
observadas, mas que estão sempre ao nosso redor. Ainda é tempo de agradecer
pela vida, que mesmo efémera está dentro de nós.
A vida é um conceito com numerosas faces.
Esqueçamos por instantes as palavras, deixemos que a nossa
vida fale por nós!
Ampulheta
by
Laura Alves
on
março 29, 2018
“Aproveita que a vida é curta!” Não são raras as vezes em que utilizamos a expressão, mas apenas da “boca para fora” porque continuamos a...