Ainda no rescaldo do Carnaval, vou falar-vos de “máscaras”. A palavra teve, provavelmente, origem do Italiano “maschera”, que veio do Latim medieval “mascus” ou “masca”, quer queria dizer "fantasma", ou do árabe “maskharah”, que significava "palhaço", "homem disfarçado". Inicialmente, designava na tradição italiana uma criação fantástica, podendo estar ligada a manifestações diabólicas, que encerravam em si algo de misterioso. 



Durante séculos foi utilizada em rituais satíricos e sagrados. Foi usada pelos índios nas guerras para lhes dar um aspeto feroz e intimidar o inimigo. Em África, na Guiné, foi usada por certos povos como elemento decorativo, simbolizando deuses e génios.

Nos teatros gregos foram experimentadas pelos atores em palco com a função de ressuscitar os homens de outrora. Também os egípcios ficaram na história pelas máscaras funerárias de Tutankamon e Agamémnon, acreditando que a sua colocação na face dos mortos ajudava na passagem para a vida eterna. Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos.

Mas, foi no século XVIII, que em Veneza se tornou um hábito regular homens e crianças da cidade usarem máscaras que cobriam somente a parte dos olhos e nariz. Com o aumento da criminalidade praticada, instituiu-se a lei de Dodge que proibia o seu uso por ser extremamente difícil prender os assassinos que matavam nas vielas.

As máscaras baseiam-se na necessidade do homem se embelezar e de se transformar, extravasando impulsos reprimidos, libertando-os das normas sociais.

No mundo moderno, numa alusão clara ao disfarce, as empresas fabricam-nas para o Carnaval consoante as tendências, inspirando-se em séries e filmes de sucesso. Numa explosão de alegria, as pessoas, podem ser alguém como: fada, bruxa, rei, rainha, pirata, cigana, polícia, enfermeiro…

A máscara é sinal de divertimento, mas não só. Existe um sentido figurado, onde representa disfarce, dissimulação, falsa aparência. Nesta perspetiva, é sempre mais complexa. O Carnaval, porém, não se limita aos quatro dias de divertimento. No dia-a-dia também vivemos o "carnaval individual", quando nos deparamos com máscaras e fantasias diversas. Quem nunca viu ninguém “mascarar-se” de bom colega, bom amigo ou funcionário feliz? Quem nunca exibiu a máscara de super mãe/pai, super mulher/homem com o coração inquieto? Quem nunca escondeu a expressão de desalento perante uma deceção? Quem nunca engoliu as lágrimas ao ser vítima de uma injustiça?

Depois, ainda temos de enfrentar o "carnaval coletivo", as muitas máscaras que nos rodeiam. Qualquer máscara, qualquer disfarce não passa disso. Despir essas fantasias e ser-se exatamente o que se é torna-se difícil, quase impossível, numa sociedade maniatada!

Descobrir o que está por detrás de cada máscara é um exercício de muita perceção e sensibilidade.  Por isso, na vida, existe sempre uma quarta-feira de cinzas, dia de tirar as máscaras pessoais ou alheias. Quarta-feira de cinzas, dia a seguir ao Carnaval, é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental (Católico). Mas, as cinzas ultrapassam (ou deveriam ultrapassar) qualquer religião, devem ser entendidas como um símbolo para a reflexão sobre a integridade, a mudança de vida, recordando-nos a passagem transitória e efémera, e a fragilidade da vida humana.

As máscaras continuarão a existir, mas por contraste, não façamos delas um ideal de vida!

A máscara

by on fevereiro 15, 2018
Ainda no rescaldo do Carnaval, vou falar-vos de “máscaras”.  A palavra teve, provavelmente, origem do Italiano “maschera”, que veio do Lat...