Alegoria da Caverna

É conhecida como uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Platão, na Alegoria da Caverna, considera a ignorância como o mundo das sombras, só superável por aqueles que consigam libertar-se da sua prisão, para poder, ao admirar a luz exterior, compreender a luz do sol e sentir o seu calor, mesmo que isso os deixe quase cegos, pela falta de hábito. Ora, isto só se tornará exequível pela familiaridade de nosso espírito com a luz.


Através desta metáfora é possível refletirmos sobre como é que, através do conhecimento, podemos alcançar a existência do mundo sensível e do mundo inteligível?

O mito fala sobre prisioneiros que, desde o nascimento, vivem acorrentados numa caverna e passam o tempo a olhar para uma parede iluminada pela luz de uma fogueira. Diariamente, quantos de nós não continuamos a usar correntes, contemplando sombras que já não existem, mas que condicionam as nossas verdades?

Nesta parede da caverna são projetadas sombras, que representam pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenários e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ocupam o seu tempo a dar nomes às sombras, analisando-as e julgando-as reais. Também nós, prisioneiros de nós próprios e dos cânones que nos subjugam, ajuizamos sobre o que aparentemente julgamos conhecer, sem nos libertarmos dos condicionalismos que evocam uma visão distorcida da realidade.

Vamos imaginar que somos forçados a sair da caverna, partindo as correntes, para poder explorar o mundo exterior. Ao entrar em contacto com a realidade percebemos que passámos a vida toda a analisar e a julgar apenas imagens projetadas. Como reagiríamos? Existem duas respostas possíveis: alguns voltariam para a caverna para transmitir aos restantes prisioneiros todo o conhecimento adquirido no mundo exterior. Outros, porém, com receio de serem ridicularizados ao contar tudo o que viram e sentiram, jamais regressariam.

Assim é na vida real. Haverá sempre os que questionam, os que interrogam, e os que só conseguem acreditar na realidade refletida na parede iluminada da caverna, ou porque a sua cegueira não lhes permite ver mais além, ou porque a sua personalidade não está bem estruturada, logo é maleável. Chegados aqui, deparamo-nos com um novo conceito. Integridade. O que significa?

De acordo com algumas definições, integridade vem do latim integritate e representa a qualidade de alguém que é íntegro, fundamentada pela retidão e pela imparcialidade, portanto uma virtude fundamental e ao mesmo tempo muito ignorada nos nossos dias. Dito de outra forma: de uma maneira geral, na sociedade, ou seja nas nossas vidas, existe um enorme abismo entre a teoria e a prática. Integridade é uma virtude desafiadora, difícil de ser praticada numa sociedade onde o que aparente ser, tal como na Alegoria da Caverna, adquire ainda uma importância maior do que aquilo que realmente é. Na prática, a integridade consolida-se unicamente quando os nossos valores estão em harmonia com a nossa conduta. Depende de coisas simples que não estão subordinadas a qualquer credo, origem, cor ou nível de educação. Requer a prática de princípios universais como respeito, liberdade, humildade, igualdade e amor. A integridade depende, muitas vezes, do óbvio.

Na verdadeira Alegoria da Caverna o escravo volta para junto dos seus antigos amigos e conta-lhes que estão completamente enganados, pois as sombras são uma visão distorcida da realidade. Os prisioneiros riem-se, pois não acreditam, e se ele tentar soltá-los será morto porque pensam que está a gozá-los.

No mito, os prisioneiros somos nós que vislumbramos e acreditamos apenas nas imagens que nos rodeiam, nos conceitos e nas informações que recebemos. Não procuramos a essência das pessoas, dos valores, mas preocupamo-nos com a futilidade e com o mundo das aparências, tal como os prisioneiros. Platão, com esta alegoria, pretendeu mostrar as diversas formas do ser humano apreender a realidade e o esforço, muitas vezes requerido, para “lutar” pela verdade.

O que de mais perturbante pode haver é admitir que estamos errados, mas conseguir admiti-lo é um reflexo de sabedoria. Ser verdadeiro constitui um dos maiores desafios da vida porque exige de nós uma atenção permanente. Ao permanecermos disponíveis podemos libertar-nos da escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade. E já dizia Platão que “a parte que ignoramos é muito maior do que tudo quanto sabemos”.


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