CR7: "Ei incumbit probatio, qui dicit, non qui negat"
Primeiro pressuposto: nas
relações não existem verdades absolutas. Qualquer história ou facto terá sempre
três perspetivas. Duas dos atores envolvidos e a outra será sempre a de cada um
de nós. Dito isto, importa também esclarecer que os dois lados mais importantes
da história serão sempre os dos envolvidos. Contudo, ambos os lados deverão ser
olhados equitativamente, sem moralismos ou falsos pudores. O meu lado, ou a
minha perspetiva será sempre secundária, baseada em suposições, em factos
divulgados nas entrelinhas e, muitas vezes, no bom senso.
Porém, existe um princípio
fundamental no direito penal português, como no de muitos outros Estados: a
presunção de inocência. Este princípio não se esgota no processo propriamente
dito: estende‑se à organização dos tribunais e à execução de penas. A presunção de inocência significa que toda a
pessoa é considerada inocente até ter sido condenada por sentença transitada em
julgado - isto é, da qual já não se pode recorrer - num tribunal criminal. Não
basta alguém ser acusado para ser culpado. E, feita a nota introdutória, vou
centrar-me no muito que se tem dito e escrito, a bem da verdade diga-se muito
mal escrito, sobre Cristiano Ronaldo, que está a ser acusado pela
norte-americana Kathryn Mayorga de violação.
Apetece-me dizer: “tenham tento
na língua”! O primeiro-ministro António Costa lembrou que CR7 "muito tem
honrado e prestigiado Portugal". O que não lhe servirá de atenuante para
qualquer condenação. Reitere-se, uma vez mais, que toda a pessoa é considerada
inocente até prova em contrário.
Não sou jurista e como tal não
quero entrar em demasiadas considerações desse foro, mas conheço os meus mais
elementares direitos e liberdades. Sei que uma suspeita, um indício ou mesmo a
condição de arguido, nunca significará que se possa considerar uma pessoa
culpada do que quer que seja. Há dois valores fundamentais que definem se uma
sociedade é ou não evoluída, o primeiro é a Liberdade e, em simultâneo, o
Estado de Direito Democrático. Certo é que nem a Liberdade, nem o Estado de
Direito Democrático toleram que seja admissível julgar, condenar e linchar em
praça pública. Se qualquer um de nós deve ter discernimento suficiente para não
o fazer, muito mais tem de ser exigido aos que nos representam, às figuras
públicas, que só o são porque todos contribuímos para que o fossem, e aos que
ocupam cargos de chefia em empresas pagas pelo Estado, Estado esse de Direito
Democrático!
Esta reflexão surgiu do estímulo
de trabalhar numa zona limite - a da dúvida. Se ninguém é bom juiz em causa
própria, todos parecem sê-lo a julgar os outros.
Rui Unas partilhou uma fotografia
de uma campanha de CR7 da luta contra o cancro, cujo slogan é: "Ser o melhor do mundo é dizer sim a esta
causa". "Ahm... epa... errr...", escreveu Unas. Desta vez Unas
não foi feliz, foi inconveniente. Perante as críticas, o próprio decidiu
justificar-se. «Não estou a julgar ninguém. Apenas assinalo a ironia do “dizer
sim” quando o que está em causa é se alguém disse não». Todos saberão que CR7
foi considerado pelo jornal italiano "La Gazzetta dello Sport" como o
jogador mais solidário do mundo. A publicação destaca a ajuda dada pelo português
a várias causas sociais. Utilizar a ironia quando se trata de apoiar a luta contra
o cancro? Achincalhar violações e cancro é divertido? Não, não é.
Ao que se sabe Kathryn Mayorga, a queixosa, subiu para a suite de CR7, em Las Vegas, voluntariamente. Ora, este pormenor poderá não ter qualquer relevância quando pensamos que diariamente recebemos convidados nas nossas casas. Ainda assim, as pessoas que amavelmente convidamos para nos visitarem, o que já implicará algum grau de intimidade, poderão sempre, se assim o desejarem, declinar o convite. Todavia, um não deverá ser sempre entendido como uma negação. Mas quando, por algum motivo, assim não for, existirá sempre a punição e não a compensação.
Ao que se sabe Kathryn Mayorga, a queixosa, subiu para a suite de CR7, em Las Vegas, voluntariamente. Ora, este pormenor poderá não ter qualquer relevância quando pensamos que diariamente recebemos convidados nas nossas casas. Ainda assim, as pessoas que amavelmente convidamos para nos visitarem, o que já implicará algum grau de intimidade, poderão sempre, se assim o desejarem, declinar o convite. Todavia, um não deverá ser sempre entendido como uma negação. Mas quando, por algum motivo, assim não for, existirá sempre a punição e não a compensação.
O que realmente se passou na suite
de CR7, em Las Vegas, só eles o saberão. Atendendo ao que é público, mas que
poderá não corresponder totalmente ao que é real, se Mayorga quisesse realmente
punir Ronaldo pela alegada violação, então deveria ter mantido a queixa inicial
e recusado a indemnização. Vendeu a sua honra ofendida por 325 mil euros. Não o
deveria ter feito. Deveria, isso sim, puni-lo. Portanto, deveria ter seguido
com a queixa para que este fosse julgado.
Não conheço Kathryn Mayorga,
portanto não posso tecer qualquer elogio ou censura a seu respeito. Não mudo de
ideias quanto ao inquestionável papel desportivo que CR7 teve e tem nacional e
internacionalmente. Ei incumbit probatio, qui dicit, non qui negat
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