Depois pode ser nunca...
Há dias uma amiga dizia-me: “tu
nunca deixas nada por dizer”. Detive-me sobre a afirmação e pensei: “não é
verdade”. A idade traz-nos alguns privilégios e um deles é perceber que, às
vezes, o silêncio é uma arma eficaz contra a estupidez. Emito muitas vezes a
minha opinião, mesmo quando não me é pedida, e isso já me trouxe algumas acidezes.
Deixo muito por dizer, mas nunca o mais importante. Jamais direi o que o outro
espera ouvir, a não ser que seja o que eu realmente quero dizer.
A amizade é um privilégio. O amor
uma bênção. A autenticidade uma dádiva.
Quem nunca pensou simplesmente em
“desligar” à espera de um novo dia ou de uma nova vida? Ou em permanecer num estado
letárgico? Ficar apático e indiferente, mas não insensível, a tudo o que
nos rodeia e conspira contra nós?
Ficamos sem chão. Quando temos
que encarar o mundo com um sorriso no rosto, mas, na verdade, sentimos um ardor
dentro do peito. Quando queremos falar, mas nada conseguimos dizer. Quando a mente
fervilha com tantos pensamentos que dificilmente conseguimos acompanhar o seu
ritmo.
Situações há que nos deixam à
margem de nós mesmos. Talvez seja mais fácil congelar alguns sentimentos do que
deixar que nos sufoquem. Lidar com a dor é uma das coisas mais difíceis que teremos
que enfrentar enquanto vivermos.
É preciso saber recomeçar mesmo
quando não aceitamos o fim. É necessário seguir em frente, ainda que alguns
fragmentos fiquem para trás. Vislumbrar a luz ao fim do túnel é sempre um
objetivo a alcançar, mas é necessário que ela brilhe primeiro dentro de nós.
Aprender a agir de forma não absoluta é uma lição de sabedoria. Sempre que
escolhemos uma direção devemos segui-la com convicção. Se assim não for,
correremos o sério risco de sermos excluídos pela própria vida, e não há
tristeza maior! Quando olhamos para a trajetória ou para os vários rumos que
traçamos devemos orgulhar-nos de tudo o que passámos para chegar até aqui, sem
nunca esquecer o que foi difícil, nem os que connosco caminharam. Se não foi
fácil, foi verdadeiro.
Na vida é sempre assim. A única
diferença é que nela seremos para sempre aprendizes. Cada momento é uma nova
oportunidade para aprendermos a ser melhores. Existe em nós a arte de nos reinventarmos.
Nascer de novo é o maior presente que a vida tem para nos dar, e ela é generosa.
Entretanto, a questão é “estamos prontos para receber”?
Passam-se dias, semanas, meses, anos,
uma eternidade. Continuamos a pensar que temos tempo. A vida e o tempo são tão
intrínsecos! Deixam perguntas, mostram respostas, esclarecem dúvidas, mas,
acima de tudo, trazem verdades. O tempo é implacável.
Não tenhamos pressa, mas também
não percamos tempo aguardando o tempo que não vem e lamentando o que não volta.
Diga, faça, mostre, ame. Nunca deixe nada por dizer. Depois pode ser nunca!
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