O poder de comunicar
Em nome do mundo sempre existiu a
necessidade de comunicar. Com mais ou menos
eloquência, comunicar é uma necessidade do ser humano. A arte de bem comunicar tornou-se
um imperativo das sociedades modernas e é, muitas vezes, um fator fundamental
para alcançar o sucesso. Os grandes mestres da comunicação já diziam que
dominar a persuasão é um fator determinante para obter o êxito. A base de uma
sociedade equilibrada é, sem dúvida, a comunicação.
A história do Homem prende-se com a presença do próprio pensamento. É unânime entre os arqueólogos que já na pré-história os homens utilizavam as gravuras rupestres com a finalidade de manterem a comunicação. E assim foi ao longo dos tempos. Comunicar é uma motivação humana.
O
Universo está em permanente comunicação. O ser humano precisa diariamente de
alimentos que forneçam os nutrientes ao organismo, necessita do ar que respira,
testemunha a troca de oxigénio e dióxido de carbono entre as plantas e os seres
vivos. O coração realiza os movimentos de sístole e diástole que fazem com que o
sangue circule pelo nosso organismo e tudo funcione na perfeição. Os médicos
utilizam as suas bases científicas para curar os doentes. O Universo brinda-nos
com fenómenos que, posteriormente, serão interpretados e analisados pelos
cientistas. A vida, os organismos e a natureza estão repletos de mensagens que
diariamente falam entre si.
A
sociedade contemporânea é impiedosa para com aqueles que se recusam a
comunicar. Tudo o que precisamos está na internet, o facilitismo está na sua génese
e faz-nos confluir para a sua galáxia. Tudo nos leva a crer que é fácil
comunicar! Todavia, basta um dia sem conexão, sem enviar ou receber
mensagens, para que nos sintamos perdidos e isolados.
Do outro lado, famílias que não
trocam um abraço, amigos que não se cruzam, casais que não se tocam. Tom
Peters, uma espécie de guru da gestão de
negócios que tem procurado combater a imobilidade e a falta de paixão no
trabalho, escreveu que “na era do e-mail, do poder do supercomputador,
da internet e da globalização, a atenção – uma prova de generosidade humana –
constitui o melhor presente que podemos dar a alguém.” As redes sociais transformaram-se
em desabafos gritantes, que ofuscam a realidade, sem nos deixar discernimento
para respeitar e linha ténue que a separa da ficção. Conhecemos a vida dos que
nos rodeiam. Quantos filhos têm, o que almoçaram ou jantaram, o novo corte de
cabelo, quando e onde vão de férias, se estão a sentir-se pensativos, furiosos ou
felizes. E tudo graças às redes sociais. A internet entra literalmente pelas nossas
vidas. A comunicação é feita em tempo recorde, mas o mundo virtual ocupa-nos
tanto tempo que esquecemos o mundo real.
Deixámos
de comunicar, de conversar, de dialogar, de ouvir. É um facto. Já ninguém se escuta. Todos queremos falar e todos queremos ser
escutados. O silêncio e a solidão são insuportáveis no quotidiano.
Atente-se no título do livro de
Daniel Sampaio, «Ninguém morre sozinho». Permitam-me discordar. Recentemente um homem com cerca de 50 anos foi encontrado morto no
interior do seu apartamento, em Faro. Segundo notícias veiculadas já estaria
morto há cerca de três meses, e segundo vizinhos já não era visto há vários
meses nas proximidades da sua habitação, nem nos locais que habitualmente
frequentava. Este é apenas um exemplo, mas infelizmente é cada vez menos raro. Onde
impera o poder da comunicação? Nós, comunicadores natos, nem conseguimos
comunicar com o vizinho do lado! Estamos
na Era da globalização, mas, paradoxalmente, comunicamos cada vez menos. A
capacidade de comunicar reside em saber escutar, e saber escutar exige mestria
e disponibilidade. Sejamos mais disponíveis!
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