Agenda lotada

Início do ano escolar. Este ano vai ser diferente. Vamos começar em harmonia. Duas semanas depois, gritos, reprimendas, cansaço e exaustão! Estas são algumas das consequências imediatas do excesso dos chamados TPC (Trabalhos para casa) na nossa “vida familiar”.

As transições entre ciclos de ensino são sempre momentos marcantes na vida social e emocional dos alunos, pais e professores, mas também pontos nevrálgicos do Sistema Educativo.

É inacreditável aquilo que estão a fazer às nossas crianças. Além da matéria programada para o ano letivo ser demasiada e extremamente exigente, além da carga horária ser muitas vezes elevada, além do excesso de trabalhos de casa, ainda querem que as crianças deixem de ser crianças.



Como mãe de duas crianças em idade escolar sinto-me preocupada com o estado atual da Educação. Existem demasiados “ses” que são contraproducentes para a dinâmica escolar e que poderiam ser perfeitamente evitados se o ensino fosse pensado e estruturado de uma forma mais direcionada e se fossem respeitados simples pressupostos como evitar salas de aula superlotadas, professores desmotivados e uma relação aluno/professor menos distanciada. Dito de outra forma evitar a “carneirada”, designação que em sentido figurado se refere a um conjunto de pessoas que imitam outras só por ignorância ou servilismo. Dentro de uma sala de aula, com trinta alunos, não podem ser respeitadas as individualidades, nem tão pouco os ritmos de aprendizagem de cada um. Não posso deixar de referir o peso excessivo das mochilas que diariamente carregam, completamente desadequado à estrutura e à idade, direi mesmo inconcebível! Poderia enumerar mais, mas estou convicta de que muitos destes fatores contribuirão, por certo, para a descida da autoestima e para o declínio da motivação de alguns alunos.

Considero que a forma como o ambiente e o contexto da nova escola satisfazem as necessidades dos nossos adolescentes terão um papel importante nos seus percursos académicos e nas suas vidas pessoais. Na minha opinião, as características gerais das escolas estão em conflito com as necessidades dos adolescentes. A articulação curricular e as práticas de ensino deveriam ser bem discutidas entre as escolas emissoras e as recetoras. Os momentos de transição entre ciclos, sobretudo entre o 1º e o 2º, devem ser repensados. Vários estudos e muitos autores, apontam-nos como problemáticos e precipitadores de situações de tensão e de stress que podem converter-se no insucesso escolar. As escolas devem, por isso, estar mais atentas, e desenvolver práticas de articulação e integração que atenuem os efeitos nocivos que estas fases de mudança, por si só, acarretam.

Atenção, tal como o psicólogo Eduardo Sá, também eu considero que muito professores “trabalham imenso, em condições muito adversas e, mesmo sendo constantemente desconsiderados, persistem”. Todavia, também já pude presenciar que outros, porém, não têm qualquer vocação para ensinar, nem tão pouco sabem ou conseguem fazê-lo. 

A Escola está, cada vez mais, a abranger a criança e o adolescente no seu todo. No entanto,  são fatores como a confiança física e emocional, as capacidades sociais e as expectativas pessoais que originam alunos e escolas de sucesso.

A família e a Escola constituem, assim, os dois principais ambientes de desenvolvimento dos nossos filhos. Como mãe, considero que é fundamental implementar políticas de maior aproximação entre os dois contextos, de forma a respeitar as particularidades e também similaridades, sobretudo no que diz respeito aos processos de desenvolvimento e à aprendizagem. Mas para isso, a Escola tem de se abrir mais à sociedade e, por conseguinte, à família! E a sociedade? Já dizia Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão-pouco a sociedade muda”. 

A terminar seguro o folheto informativo que a escola do meu filho mais velho, no 7ºano de escolaridade, entregou aos encarregados de educação neste ano letivo. Contém informações básicas sobre a escola e sobre o seu funcionamento, como serviços, horário, nomes dos professores, entre outras. Todas de grande utilidade. Mas, logo na folha de rosto, sobressai o seguinte excerto de Alexandre O'Neill:

«Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo»!
«Amigo» é um sorriso 
De boca em boca, 
Um olhar bem limpo, 
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, 
Um coração pronto a pulsar.»

Quem nos dera que esta fosse a nossa Escola!

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