Não sou feminista (ponto).



Não sou feminista. Basicamente, porque não considero que as mulheres sejam um ser inferior e porque também não concordo que tenha de ser comemorado um “Dia da mulher”, quando todos os dias são uma homenagem à vida, que só a mulher pode gerar.

Não sou feminista porque acredito que não preciso de sê-lo. Nunca me senti discriminada por ser mulher, mas sim por ser um ser humano e porque, infelizmente, ainda existem muitos com falta de caráter. Não sou feminista, sou pelos direitos das mulheres e pela igualdade de géneros. Insurjo-me perante toda e qualquer conjetura que aliene direitos fundamentais e que em nome de culturas reprimidas atente contra as mulheres.

Recuemos a 2005, espaço temporal relativamente próximo. O mais básico dos direitos políticos para as mulheres, o voto, ainda enfrentava grandes obstáculos. Nesse ano, pela primeira vez, na Arábia Saudita as mulheres puderam votar e candidatar-se à liderança dos municípios.

Ano 2017. A Arábia Saudita anunciou que ia autorizar as mulheres a conduzir. O que acho inconcebível é que se anuncie, como se de algo extraordinário se tratasse, que as mulheres vão passar a conduzir. Mas, saliente-se que esta medida põe, assim, fim a um dos principais símbolos de repressão às mulheres neste país. Todavia, a medida, que já foi tornada pública como um bastião, só deve ser implementada em junho de 2018, segundo a BBC. Mais grave, isto porque na Arábia ainda não existe um sistema preparado para ensinar mulheres a conduzir, nem para emitir licenças. Como é possível tamanha mesquinhez! O que terá de ter o sistema, diferente dos homens, e o que será preciso preparar? Além disso, segundo a BBC, a polícia também vai ter de se “adaptar” a interagir com mulheres (bicho raro), numa sociedade onde homens e mulheres não podem demonstrar afeto ou contacto direto.

Para 2018 está também marcada a estreia das mulheres em estádios de futebol. A Arábia Saudita vai autorizar que assistam a acontecimentos desportivos em três estádios: Riade, Jeddah (oeste) e Dammam (leste) começaram a ser preparados para receber famílias. Imagine-se que poucos dias antes de ser anunciada esta “dádiva” do rei Salman, centenas de mulheres sauditas tinham-se sentado pela primeira vez num estádio em Riade, para assistir a concertos e fogos-de-artifício, no feriado nacional. Até então nunca lhes tinha sido permitido que visitassem estádios, no âmbito da aplicação da regra de separação de géneros em espaços públicos. Como é possível que direitos tão básicos ainda sejam negados em pleno século XXI?

Como se não bastasse, na Arábia Saudita as mulheres ainda estão submetidas à tutela de um homem da família, normalmente o pai, o marido ou um irmão, para casar, viajar, obter passaporte e, em certas situações, para tratamentos médicos e para arranjar emprego.

Catorze anos desde que a África viu assinado o Protocolo de Maputo - um dos seus instrumentos legais mais progressistas sobre os direitos das mulheres – e violações ainda são comuns em todo o continente. Há disparidade, desigualdade e discriminação contra as mulheres em todos os lugares de África. O Protocolo de Maputo é a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os direitos das mulheres, que foi adotada em 2003 pela Assembleia dos Chefes de Estado e de Governo em Maputo, Moçambique.

Egipto. Recentemente, um tribunal egípcio condenou uma apresentadora de televisão a três anos de prisão. O motivo? Durante um programa, falou sobre gravidez fora do casamento. A apresentadora sobejamente conhecida, Doaa Salah, foi acusada de "ofender a decência pública" e “trabalhar para destruir as normas sociais.” Foi condenada a três anos de prisão e vai ter ainda de pagar 10 mil libras egípcias para permanecer em liberdade até recorrer da sentença.

No que concerne à desigualdade entre homens e mulheres, o top 5 dos países que apresentam melhor índice é dominado por nações nórdicas, com a Islândia em primeiro lugar, seguida pela Noruega, Finlândia, Suécia e Dinamarca. No lado oposto do ranking estão Mali, Síria, Paquistão e Iêmen, países com as maiores percentagens de desigualdade entre homens e mulheres.

Como se pode verificar esta aparente universalidade esconde, na realidade, uma ausência gritante de paridade.

Não sou feminista porque não sou de modas e considero que este movimento perdeu a sua essência. Sou contra tudo que apele ao ódio entre ideais e opiniões diferentes. Sempre admirei mulheres líderes, independentes, que lutam pelas suas ideias, como Joana d’Arc, Mary Wollstonecraft, Eleanor Roosevelt, Madre Teresa, Princesa Diana, Anita Garibaldi, Malala Yousafzai, Bertha Lutz, entre muitas outras mulheres anónimas, que mudaram a história do mundo, lutando diariamente pelos seus direitos, por mais ínfimos que fossem.

Repugno qualquer machismo que coloca o homem acima da mulher, mas também repudio o feminismo que incentiva o abandono da cultura de família, que desvaloriza fraternidade, porque acredito que homens e mulheres nasceram para viver em conjunto, para se completarem, sem qualquer vassalagem física ou emocional.

Valorizo as relações humanas e os valores morais, como respeito, justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade, etc. Ora, os seres humanos são os responsáveis pela criação e desenvolvimento destes valores. Desta forma, existem reflexões que nos libertam e outras onde fica tanto por dizer.

Não. Não sou feminista, sou pelos direitos das mulheres e pela igualdade de géneros. Sou humanista.



2 comentários:

  1. Parabéns pelo seu blog. Gosto muito! Relativamente a esta opinião que tão bem expressa aqui, compreendo perfeitamente o que diz e tenho defendido isto durante anos. Mas hoje, compreendo que a corrente actual do feminismo é muito mais do que já foi noutros tempos, e apesar de tudo ainda faz sentido na nossa sociedade. (Atenção que nunca nos poderemos comparar à Arábia Saudita ou países similares, onde e apesar da natureza patriarcal e machista dessas sociedades, as próprias mulheres advogam para si um certo tipo de proteccionismo masculino e onde se ouvem mulheres que estudaram na Europa dizer que "têm pena de nós, as mulheres Europeias", porque imagine-se lá o horror "as coitadas até têm que levar o lixo à rua"; foi um documentário na TV; não sei dizer qual nem em que canal). Ser feminista hoje é dizer de forma clara que uma mulher pode fazer e ser o que quiser. Ou seja, o que a torna realmente feliz sem sentir-se julgada pelos seus pares femininos: pode ser só dona de casa, pode ser uma mulher de carreira sem filhos, ou pode ser tudo isso. Hoje, o feminismo já não é a antítese do machismo. É a derradeira marcha para a total felicidade e realização de cada mulher, dentro de uma sociedade marcada por estereótipos muitas vezes impostos pelas próprias mulheres. Sempre pela DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, mas ainda e sempre pela mulher, nas suas particularidades únicas e sem nunca ceder relativamente ao que nos faz inteiramente felizes e completas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Agradeço o seu comentário. Penso que na essência defendemos o mesmo, talvez com perspetivas diferentes.

      Eliminar