“Os miseráveis”

Os Miseráveis”. Poderia estar a falar de uma das principais obras do escritor francês Victor Hugo. Um livro que retrata a sociedade francesa do século XIX e mostra o panorama socioeconómico da população mais pobre. Porém, a alusão foi feita recentemente, no programa «O Último Apaga a Luz», da RTP3, e diz respeito à Educação na sociedade portuguesa, mais concretamente aos professores.


Os resultados miseráveis dos nossos alunos são porque têm professores miseráveis. Miseráveis”, disse Rodrigo Moita de Deus, escritor e fundador de um dos blogues mais lidos do País. Segundo o PT Jornal (http://ptjornal.com/os-professores-sao-miseraveis-diz-rodrigo-moita-deus-215160) estas afirmações polémicas foram proferidas no referido programa por Rodrigo Moita de Deus, que teceu duras críticas aos professores, culpando-os dos resultados negativos dos alunos.

Não concordando com as afirmações proferidas, não me pareceria de todo descabido que se ouvissem mais os alunos e que fossem questionados sobre o que pensam das políticas educativas que lhes estão a ser incutidas e já agora se também temos alunos descontentes. Sim, porque todos já sabemos que existem professores descontentes e desmotivados. E os alunos estarão todos felizes e motivados?

O que realmente me preocupa é que há muitos anos que não se discutem políticas de Educação em Portugal. Discute-se, isso sim, a carreira dos professores, a progressão e o seu aumento salarial. Para quando uma greve dos professores contra o atual estado da Educação? Contra o excesso de alunos por turma, o ensino não diferenciado, os planos curriculares demasiado extensos e, por conseguinte, a matéria não consolidada? Sim, porque os professores são os primeiros a constatar que muita coisa vai mal dentro da sala de aula. Facilmente perceberão que o ensino massificado não satisfaz a grande maioria dos alunos e que as metas curriculares não são consistentes. Os alunos têm que ver utilidade no que aprendem, porque, se assim não for, nunca estarão predispostos a aprender o que “não serve para nada”. O aluno precisa de um ensino claro, objetivo, que o faça sentir parte do processo de ensino-aprendizagem, precisa de um ensino rigoroso.

Voltemos a Rodrigo Moita de Deus. Desta vez à resposta mais ou menos coletiva, que escreveu a todos os professores no seu blog (http://31daarmada.blogs.sapo.pt/) a propósito das reações às suas declarações. Atente-se no paralelismo que faz da escola pública com o ensino superior.  Passo a citar: “E o ensino superior também é subfinanciado. E o ensino superior também se pode queixar da falta de condições. E os professores do ensino superior também se podem queixar do congelamento das carreiras, da investigação que são obrigados a fazer, dos sistemas de avaliação, das horas extras ou da necessidade de apresentarem projetos para garantir as verbas necessárias para manterem os seus departamentos. E, mesmo assim, não os vemos na rua. Vemo-los a compararem-se com as melhores universidades internacionais. É a vida. E a maior parte deles fazem pela vida.” E os professores das escolas privadas serão assim tão bem pagos? Será por isso que se sentem desmotivados? Pois é, digo eu. Todos os funcionários públicos sabem o que é o subfinanciamento, não são só os professores. Todos sabem o que é não progredir na carreira e também sabem o que é desmotivação. Mais, todas as famílias portuguesas sabem o que foi e continua a ser a austeridade, mas infelizmente não se podem sentir desmotivadas, mas sim mais resilientes!

Existem professores de quem nunca me esquecerei. Recordo o nome, a cumplicidade, o apoio e a preocupação constantes. Sim, felizmente também há muito bons professores nas nossas escolas.

Conheci muitos professores inteiramente dedicados ao seu trabalho e à sua paixão pelo prazer de ensinar. Vejo, enquanto mãe (atenta) de dois alunos de ciclos diferentes, professores que pouco se importam com eles e outros que não desistem dos seus alunos.

O sucesso ou insucesso de uma turma deveriam ser vistos como uma consequência direta do seu mestre. Bons professores quase sempre conseguem ter bons alunos, ou pelo menos alunos motivados. Tudo isto para dizer o quê? Para dizer que uma das profissões mais importantes em qualquer sociedade é a de professor, que tem o desafio – e o prazer - de ensinar e ajudar a transformar as gerações. Um bom professor não é aquele que se limita a dar aulas.

PS – Neste artigo não estão incluídos os muitos professores que fazem da arte de ensinar a mais nobre e estimulante profissão do mundo.

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